São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Excelência da USP é maior que seus conflitos

SUELY VILELA


Os atos de grupos radicais, cuja violência é condenável, não podem se sobrepor à contribuição inegável da USP ao Estado e ao país


NO MOMENTO em que a invasão da reitoria da USP expõe a instituição à sociedade, ocasionando manifestações equivocadas e incompletas sobre o seu desempenho, é essencial esclarecer a sua real contribuição, especialmente nesses 18 anos de autonomia universitária.
Nesse período, em particular, o cenário é único: a universidade avançou significativamente no desempenho de suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Tais avanços causaram impacto no desenvolvimento socioeconômico do Estado e do país e resultaram no reconhecimento internacional da universidade como centro de excelência acadêmica.
A quase duas décadas do pleno desenvolvimento da autonomia, as vagas no vestibular aumentaram em 150% -hoje, são 10.202- e houve igual aumento de alunos matriculados na graduação. O número de pós-graduandos dobrou (aproximadamente 28 mil, em 2006) e a formação de doutores aumentou quatro vezes no período.
Hoje, a USP se destaca no ensino superior brasileiro. No plano internacional, é a segunda da América Latina e a 97ª entre as 3.000 melhores universidades do mundo, segundo o ranking Webometrics, 2007 (www.webometrics.info). Oferece 228 cursos de graduação em todas as áreas a 48 mil estudantes e 229 programas de pós-graduação (210 cursos de mestrado e 219 de doutorado), compreendendo 9,4% daqueles oferecidos no âmbito nacional. Desses programas, 60% são considerados de excelência pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e correspondem a 20% dos programas brasileiros assim classificados.
A solidez do sistema de pós-graduação se reflete no número de titulados. A USP é responsável pela formação do maior número de doutores por ano no mundo, acima das melhores universidades norte-americanas -o triplo em relação à Universidade da Califórnia, em Berkeley. São mais de 2.000 doutores titulados por ano (24% dos formados no Brasil), incluindo contingente significativo para o exterior, com destaque para a América Latina.
A pesquisa avançada está a cargo dos seus 1.429 grupos, que incluem 1.766 pesquisadores com bolsa de produtividade do CNPq, 56% nos níveis mais elevados. Muitos desses grupos e núcleos de pesquisa desenvolvem projetos em áreas estratégicas, de impacto nacional e internacional. A vigorosa publicação científica resultante das pesquisas desenvolvidas é veiculada nos melhores periódicos científicos do mundo e responde por cerca de 26% da produção brasileira, o que a posiciona no 45º lugar entre as mais produtivas cientificamente (Webometrics, 2007).
O relacionamento substantivo com a sociedade advém de sua expressiva atividade de extensão, indissociável do ensino e da pesquisa, que contribui para a educação de forma global atingindo, anualmente, cerca de 2 milhões de pessoas. Pode-se acrescentar, ainda, a assistência prestada a milhares de pessoas em seus hospitais e demais centros associados.
Estratégias de transferência do conhecimento gerado vêm permitindo que se avance também na área de inovação tecnológica, com registro substancial de patentes. A qualidade com que desenvolve suas atividades se deve a seus 5.466 docentes, 95% deles com o título mínimo de doutor, 80% com dedicação integral, e 15.588 funcionários técnico-administrativos envolvidos na busca permanente da excelência de uma universidade pública, cuja transparência é pressuposto do compromisso assumido com a sociedade.
Nesse particular, é fundamental ressaltar que a USP, por zelar pela aplicação transparente e responsável dos recursos, informa, mensalmente, desde 1997, o Siafem (Sistema Integrado de Informações Financeiras do Estado e dos Municípios) -e diariamente, a partir de abril deste ano- sem comprometer a sua autonomia.
A autonomia universitária se faz com dotação orçamentária garantida e liberdade de aplicação de recursos em projetos definidos pelo planejamento estratégico da instituição.
Ressalte-se que essa sistemática continua sendo praticada e deve ser preservada para que a USP continue cumprindo, com excelência, o mandato constitucional de promoção da educação superior e da geração do conhecimento que o povo do Estado de São Paulo lhe atribuiu.
Não se admite, portanto, que atos por parte de grupos radicais, cuja violência é sumariamente condenável, possam se sobrepor à contribuição inegável da USP ao desenvolvimento do Estado e do país.

SUELY VILELA , 53, doutora em bioquímica, é reitora da USP (Universidade de São Paulo).

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