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Editoriais
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Maré de acusações
É BEM GRANDE o oceano, afirmou o principal executivo
da British Petroleum, Tony
Hayward, se comparado com a
área "relativamente diminuta"
onde ocorreu o derramamento
de petróleo que, desde o dia 20
de abril, contamina o golfo do
México -ameaçando tornar-se o
maior desastre ecológico da história norte-americana.
Observações desse tipo, enquanto falham os esforços para
evitar o pleno impacto da maré
poluente nas costas da Louisiana
e do Mississipi, não atestam altos
padrões de comprometimento
ambiental na direção de uma das
maiores petroleiras do mundo.
À frase infeliz, pode-se acrescentar o espetáculo de troca de
acusações mútuas apresentado
por representantes de três empresas envolvidas no acidente,
por ocasião de uma audiência no
Congresso americano. A cena foi
considerada "ridícula" pelo presidente Barack Obama.
A aspereza do líder norte-americano inclui, sem dúvida, boa
parcela de cálculo político. As
responsabilidades do próprio governo federal no episódio não
devem ser minimizadas.
A agência encarregada de fiscalizar as operações de exploração
é acusada de ter-se omitido. Os
primeiros relatórios técnicos oficiais sobre o acidente subestimaram o volume do vazamento. A
tragédia ocorreu poucas semanas depois de Obama ter mostrado mais receptividade ao lema de
seus adversários na campanha
eleitoral ("drill, baby, drill"), que
privilegiavam a perfuração de
novos poços em detrimento de
novas fontes de energia.
Demonizar empresas, tanto
quanto demonizar governos, seria simplista. Assim como no caso da crise financeira, trata-se de
dois lados de um mesmo problema: a necessidade de que mecanismos eficientes de regulação
estatal convivam com o risco e o
dinamismo do sistema de mercado. As fissuras e vazamentos
que daí resultam não são, como
se sabe, nada fáceis de soldar.
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