São Paulo, segunda-feira, 17 de maio de 2010

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Editoriais

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Maré de acusações

É BEM GRANDE o oceano, afirmou o principal executivo da British Petroleum, Tony Hayward, se comparado com a área "relativamente diminuta" onde ocorreu o derramamento de petróleo que, desde o dia 20 de abril, contamina o golfo do México -ameaçando tornar-se o maior desastre ecológico da história norte-americana.
Observações desse tipo, enquanto falham os esforços para evitar o pleno impacto da maré poluente nas costas da Louisiana e do Mississipi, não atestam altos padrões de comprometimento ambiental na direção de uma das maiores petroleiras do mundo.
À frase infeliz, pode-se acrescentar o espetáculo de troca de acusações mútuas apresentado por representantes de três empresas envolvidas no acidente, por ocasião de uma audiência no Congresso americano. A cena foi considerada "ridícula" pelo presidente Barack Obama.
A aspereza do líder norte-americano inclui, sem dúvida, boa parcela de cálculo político. As responsabilidades do próprio governo federal no episódio não devem ser minimizadas.
A agência encarregada de fiscalizar as operações de exploração é acusada de ter-se omitido. Os primeiros relatórios técnicos oficiais sobre o acidente subestimaram o volume do vazamento. A tragédia ocorreu poucas semanas depois de Obama ter mostrado mais receptividade ao lema de seus adversários na campanha eleitoral ("drill, baby, drill"), que privilegiavam a perfuração de novos poços em detrimento de novas fontes de energia.
Demonizar empresas, tanto quanto demonizar governos, seria simplista. Assim como no caso da crise financeira, trata-se de dois lados de um mesmo problema: a necessidade de que mecanismos eficientes de regulação estatal convivam com o risco e o dinamismo do sistema de mercado. As fissuras e vazamentos que daí resultam não são, como se sabe, nada fáceis de soldar.


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