São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O meio ambiente e o progresso social
VINOD THOMAS
Apesar dos óbvios benefícios de um meio ambiente de melhor qualidade, as escolhas são frequentemente difíceis na maioria dos países. O uso sustentável e a preservação não podem prevalecer enquanto ganhos de curto prazo forem apropriados por poucas pessoas e os custos, às vezes muito maiores que os benefícios, afluírem para uma grande e dispersa população. Por esse motivo, ações governamentais para proteger os investimentos no meio ambiente são de grande importância. Além da preservação de áreas críticas, algumas outras prioridades de política pública merecem atenção. Primeiro, o fornecimento de serviços básicos e educação em áreas com uma densidade populacional relativamente alta melhora a vida das pessoas e desencoraja o seu avanço sobre novas áreas florestais e sobre o litoral, onde esses serviços não existem. Educação e serviços básicos também proporcionam à população técnicas sustentáveis, como novos métodos de extração de madeira com baixo impacto ambiental, que garantem o seu sustento sem danificar o meio ambiente. Segundo, a criação de direitos de propriedade poderia ser uma forma eficaz e duradoura de contribuir com a proteção do meio ambiente, por meio de incentivos de mercado que alterem o comportamento das pessoas em favor de atividades ambientalmente sustentáveis. O importante é criar incentivos, além de leis e regulamentações, que tornem o uso sustentável dos recursos mais atrativo, principalmente para os que podem obter ganhos imediatos com a má exploração dos mesmos. Terceiro, um mercado maior para produtos ambientalmente corretos poderia tornar as florestas mais valiosas. A Finlândia e a Costa Rica conseguiram isso, em parte, ao permitirem que as madeireiras rotulassem a madeira extraída sustentavelmente como "certificada ambientalmente". A experiência mostrou que os mercados importadores estão dispostos a pagar um pouco mais por produtos obtidos de forma ambientalmente sustentável. O Brasil tem feito progressos na promoção da preservação e do uso sustentável do patrimônio natural. Mesmo assim, restam apenas 7% da mata atlântica original; mais de 15% da floresta amazônica já foi destruída e, no cerrado, mais de 50% do bioma foi de alguma forma alterado. Dada a magnitude de suas desigualdades sociais, o Brasil precisa mobilizar todos os recursos disponíveis e utilizá-los na promoção do avanço social. Aumentar a prioridade para a proteção ambiental, além de beneficiar o meio ambiente, é também uma maneira efetiva de promover o progresso social. Vinod Thomas, economista, é diretor do Banco Mundial para o Brasil. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Roberto Brant: A reforma da Previdência Índice |
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