São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2008

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A guerra da citricultura

JOÃO SAMPAIO


Estamos numa verdadeira guerra para preservar um dos mais importantes e lucrativos setores da economia nacional


ALÉM DAS barreiras tarifárias e entraves interferentes nas leis de mercado, como os subsídios europeus e norte-americanos, há um sério obstáculo à participação de um país no agronegócio globalizado: as exigências sanitárias e fitossanitárias.
O mais ínfimo detalhe negativo pode ser evocado pelos importadores para embargar as vendas, e o processo de liberação demanda meses, às vezes anos, e implica perda de divisas para a nação e de faturamento para os empresários rurais.
A consciência sobre a questão é decisiva para uma economia, como a brasileira, de grande vocação agropecuária. Assim, é necessária visão estratégica e preventiva. Tal alerta aplica-se à citricultura, um de nossos setores mais competitivos e de maior potencial de crescimento.
O Brasil detém aproximadamente 40% da produção mundial de laranja e 59% do processamento de suco dessa fruta. São Paulo, o maior produtor do planeta, movimenta R$ 9 bilhões por ano e mantém 400 mil empregos diretos. O país exporta US$ 2 bilhões em suco de laranja, posicionando-se como "dono" de 80% do mercado internacional, cujo consumo cresce de 2% a 4% ao ano.
Pois bem, a importância da atividade torna proporcionalmente grave a ameaça aos laranjais paulistas e brasileiros representada por feroz inimigo, que já invade os pomares: o "greening", também conhecido como "huanglongbing" (HBL), doença de difícil controle, provavelmente originária da China, que já dizimou plantações na Ásia e na África.
O invasor é uma bactéria, chamada provisoriamente Candidatus liberibacter spp. Antes de sua identificação no Brasil, existiam duas formas, a Candidatus liberibacter africanus e a Candidatus liberibacter asiaticus. Sua evolução é lenta, mas contínua e avassaladora.
Combater a doença, portanto, é prioridade absoluta para preservar a citricultura e tudo o que ela representa em termos de geração de empregos, renda e divisas. A dimensão do desafio permite pressupor que o êxito na empreitada depende do amplo envolvimento do setor público, federal e estadual, e da iniciativa privada.
O governo do Estado de São Paulo tem investido no combate ao mal. Estão sendo contratados 356 técnicos concursados para a área de defesa agropecuária e feitos investimentos em tecnologia da informação, para melhorar a qualidade das ações e conferir mais inteligência e eficácia logística à defesa sanitária.
O maior número de agentes de defesa, incluindo engenheiros agrônomos, contribuirá para ampliar a fiscalização, nos moldes da instrução normativa nº 32 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em especial nas regiões de Araraquara e Araras, no interior paulista, nas quais há maiores indícios de infecção.
Porém, é fundamental que o citricultor se conscientize e realize as inspeções nos pomares, conforme determina a referida norma. Isso é necessário para que a erradicação das plantas doentes seja feita rapidamente.
São essenciais, ainda, as seguintes medidas: realização simultânea das inspeções, objetivando identificar plantas afetadas pelo "greening" e o cancro cítrico; e providências que facilitem a captação de recursos em entidades financiadoras pelos citricultores que precisem promover a erradicação de plantas.
O governo paulista, além do reaparelhamento da Coordenadoria de Defesa Agropecuária, está readequando a linha específica no Fundo de Expansão do Agronegócio (Feap) para financiar os citricultores na adequação de sua infra-estrutura e aquisição de mudas sadias. Além disso, desencadeará campanha educativa na mídia para alertar os produtores sobre a gravidade da ameaça.
Outra ação importantíssima no âmbito do Feap é a engenharia financeira criada com o Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) para garantir a subvenção do prêmio do seguro. Ou seja, o produtor que cumprir suas obrigações terá sua cultura assegurada e não correrá riscos de perder a safra.
Como é possível perceber, a luta a ser travada é árdua, mas as possibilidades de vitória são amplas. Para tanto, ninguém pode abdicar de suas responsabilidades. Governos da União e do Estado -acima de questões partidárias- precisam fazer a sua parte. O mesmo aplica-se ao Fundecitrus, que congrega os produtores e cuja participação é decisiva. É fundamental, ainda, a mobilização de cada citricultor, que deve agir para monitorar e erradicar as plantas doentes.
Estamos numa verdadeira guerra para preservar um dos mais importantes e lucrativos setores da economia nacional. Ninguém tem direito à omissão!


JOÃO SAMPAIO , 42, economista, é o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.


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