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CLÓVIS ROSSI
O coração e o bolso
MADRI - Impressionam a constância e firmeza com que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva fala de Mercosul
e América do Sul nas viagens ao exterior. Os crédulos dirão que é normal:
tais prioridades estavam nos discursos de posse tanto do próprio Lula como de seu chanceler, Celso Amorim.
Ainda assim, é bom lembrar que
Lula considerou "bravatas" muitas
das posições que ele e seu partido defenderam a vida toda. Por que a ênfase em Mercosul e em América do
Sul não poderia ser uma delas?
Defender a integração com países
tão ou mais pobres que o Brasil não é
fácil. No mínimo, no mínimo, causa
um dar de ombros.
Não obstante, Lula vai em frente,
como caixeiro-viajante, vendendo a
integração física da América do Sul
com o argumento (indiscutível) de
que a retórica sobre a integração é
abundante, mas faltam pontes, rodovias, ferrovias e até vôos regulares entre capitais do subcontinente.
Do ponto de vista filosófico, o presidente vende a tese com este argumento: "No século 21, as economias sólidas do mundo terão de ajudar as economias mais fracas a se desenvolverem. Se isso acontecer, certamente
nós estaremos construindo neste século a possibilidade de não termos
mais guerras, narcotráfico e terrorismo nem jovens do Terceiro Mundo
caindo na criminalidade por falta de
opção de estudo e trabalho".
Bonito, mas, no mundo moderno,
insuficiente para convencer corações
já empedernidos. É mais fácil vender
a tese pelo lado "business". Aos empresários, Lula acena com parcerias
na construção (ou reconstrução) da
infra-estrutura sub-regional. Aí cola.
Francisco Luzón, responsável por
América Latina no Santander, o megabanco espanhol, entusiasmou-se
em reunião na qual Lula falou de novo sobre investimentos em infra-estrutura: "Fenomenal. Estamos presentes na maioria dos países".
O importante é que funcione, movido pelo coração ou pelo bolso.
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