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KENNETH MAXWELL
Sátira
NEM TODO MUNDO tem senso de humor. É como inteligência natural. Nem todo
mundo é esperto. De fato, algumas
pessoas são naturalmente obtusas.
Não significa que elas sejam de alguma maneira inferiores ou menos
charmosas, bonitas, fortes ou bem
sucedidas. Mas o fato é que os seres
humanos têm diferentes talentos e
diferentes capacidades. Essa é uma
descoberta da vida, especialmente
para os professores. Eu sei que
mães relutam em aceitar esse fato
com relação aos seus filhos, mas
ainda assim é verdade.
Sátira é ainda mais difícil. Trata-se de uma forma de humor que depende da insinuação. Mas o humor
tem uma regra essencial: se algo requer explicação, não é engraçado.
Nesta semana, a capa da revista
"New Yorker" traz o senador Barack Obama e sua mulher Michelle
como terroristas muçulmanos. Ela
ostenta cabelos enormes, em um
penteado afro ao estilo dos anos
60, e porta uma metralhadora. Ele
veste trajes do Oriente Médio. Os
dois estão no Gabinete Oval da Casa Branca. Na lareira, encimada
por um retrato de Osama bin Laden, vê-se uma bandeira dos Estados Unidos queimando. O resultado não é engraçado. De fato, a sátira passa bem longe do alvo.
O editor da "New Yorker", David
Remnick, se viu rapidamente forçado a explicar que o objetivo da
capa era demonstrar o absurdo
dessas imagens. Mas estamos falando de imagens que refletem a
onda de propaganda adversa a
Obama que circula amplamente
pela internet e nas fímbrias das
campanhas. No Upper West Side
de Manhattan, um baluarte da centro-esquerda, a capa pode parecer
uma zombaria divertida quanto às
percepções populares dos conservadores com relação a Obama, mas
o mesmo não se aplica ao restante
do mundo político. A capa não só
não foi engraçada como na verdade
está jogando mais lenha na fogueira.
Obama sairá prejudicado? Provavelmente não. Já passou por situações piores. O veterano militante dos direitos civis, reverendo Jesse Jackson, foi apanhado em uma
gravação na qual sugere que certa
porção da anatomia de Barack
Obama seja decepada porque ele
"menospreza os negros". A imprensa norte-americana foi pudica
demais para mencionar que órgão
exatamente o reverendo Jackson
tinha em mente, mas a BBC de
Londres não viu problemas em
mencionar o termo em suas transmissões noticiosas mundiais.
Quando a ex-secretária de Estado
dos Estados Unidos Madeleine Albright empregou o mesmo termo
na ONU, ela o fez em espanhol
-cojones-, e a imprensa norte-americana adorou.
Assim, apertem os cintos. A campanha eleitoral geral dos Estados
Unidos nem começou.
KENNETH MAXWELL 0escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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