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FERNANDO RODRIGUES
Tiro no peito
BRASÍLIA - Wesley Rodrigues de
Oliveira tinha 11 anos. Foi atingido
no peito por uma bala perdida por
volta de 8h30 de ontem. Estava em
sua carteira, assistindo a uma aula
num Ciep (Centro Integrado de
Educação Pública) de Costa Barros,
subúrbio do Rio. Wesley morreu.
Uma equipe de 120 policiais militares fazia uma operação nas favelas da Quitanda, da Lagartixa e da
Pedreira, todas perto do Ciep. Um
comandante foi exonerado. A PM
prometeu "rigor na apuração".
Essa tragédia em breve se transformará em mais um número nas
estatísticas de violência. Mas serve
para demonstrar como há uma distância entre a política e a vida real.
Até o início da noite, não havia manifestação oficial dos dois principais pré-candidatos a presidente.
José Serra (PSDB) deu entrevistas
em Pernambuco. Falou em "peitar
a reforma política". Dilma Rousseff
passou o dia se preparando para
um comício programado para ontem à noite, no Rio.
Dilma tem se comunicado com a
sociedade por meio de notas ocasionais publicadas no microblog
Twitter. Seus "tweets" mais recentes recomendam um curioso "Dilma boy" e comentam a chuva de
ontem no Rio. "Vamos lá", disse a
petista referindo-se a uma frase do
presidente nacional do PT, José
Eduardo Dutra: "Chuva danada.
Mas o carioca vai mostrar que é Dilma até debaixo d'água".
Enquanto os dois principais candidatos a presidente silenciavam
sobre o drama vivido pela família
do menino Wesley, moradores protestavam queimando pneus e bloqueando uma avenida.
Dilma, Serra e políticos em geral
não estão obrigados, por óbvio, a
comentar cada caso de bala perdida. Mas o triste episódio de um menino de 11 anos atingido quando estudava dentro de sua escola expressa uma realidade difícil de evitar.
Exceto para políticos em campanha. As prioridades são outras.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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