São Paulo, sábado, 17 de julho de 2010

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CESAR MAIA

Gestão política

A gestão mais complexa em governo não é a gestão administrativa, nem a econômico-financeira. É a gestão política.
Nas duas primeiras pode-se inclusive delegar a autoridade. Na gestão política a autoridade do chefe do Poder Executivo é indelegável. Deve ser democrática e incorporadora, de forma a construir a maior base possível de consensos.
A análise de um processo eleitoral não deve se restringir às propostas. Deve incluir os desdobramentos políticos. O atual governo não introduziu novidades em matéria econômica e financeira e até gerou retrocesso administrativo.
Mas, do ponto de vista político, ocorreu uma distensão, na medida em que movimentos sociais e sindicais se incorporaram ao governo. Os principais partidos de oposição são basicamente parlamentares.
Ao se projetar um cenário pós-eleitoral, deve-se tratar da gestão política. A incorporação ao governo dos movimentos sociais e sindicais gerou faixas de forte interesse corporativo dentro do Estado. Da mesma forma, as relações com ONGs e associações diversas através de financiamentos que as capitalizaram, criando dependências. As relações com parlamentares tem sido, digamos, plástica.
Como serão as reações desse conjunto à alternância de governo? Será um processo normal como nas sociedades democráticas ou haverá um estressamento das relações com o novo governo, se da oposição, numa espécie de inconformismo? Essa disjuntiva não se aplica só à oposição.
Lembrem-se as dificuldades dos governos do PT nos anos 90 na cidade de São Paulo, em Brasília e em Fortaleza ao não incorporarem todas as expectativas das corporações que continham. Para garantir a estabilidade política e a paz social no próximo governo, há que se ter paciência, amplitude e capacidade de incorporação, de forma a que se afirme o programa de governo.
Sua aplicação não deverá ser excludente e muito menos traumática. Não há por que os sindicatos, centrais sindicais, movimentos sociais, ONGs e outras organizações ou parlamentares plásticos imaginarem que a alternância democrática, ou mesmo o novo estilo presidencial, serão sobrepartidarizados como têm sido.
No vetor central, as relações com o Legislativo. Num país onde nenhum partido alcança 20% das cadeiras, a flexibilidade deverá trazer a representação parlamentar para um campo de negociações permanentes, a partir dos limites que afirmam o interesse público sobre o pessoal.
Que o apoio parlamentar suficiente, sem verticalidade, impeça o imobilismo e garanta a governabilidade. Da mesma forma, em relação à Federação, renovando o pacto federativo apartidariamente, sem submissão dos Estados, invertebrados e de pires nas mãos, como estão.


CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.

cesar.maia@uol.com.br


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