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CESAR MAIA
Gestão política
A gestão mais complexa em
governo não é a gestão administrativa, nem a econômico-financeira. É a gestão política.
Nas duas primeiras pode-se
inclusive delegar a autoridade. Na gestão política a autoridade do chefe do Poder Executivo é indelegável. Deve ser democrática e incorporadora, de
forma a construir a maior base
possível de consensos.
A análise de um processo
eleitoral não deve se restringir
às propostas. Deve incluir os
desdobramentos políticos. O
atual governo não introduziu
novidades em matéria econômica e financeira e até gerou
retrocesso administrativo.
Mas, do ponto de vista político, ocorreu uma distensão, na
medida em que movimentos
sociais e sindicais se incorporaram ao governo. Os principais partidos de oposição são
basicamente parlamentares.
Ao se projetar um cenário
pós-eleitoral, deve-se tratar da
gestão política. A incorporação ao governo dos movimentos sociais e sindicais gerou
faixas de forte interesse corporativo dentro do Estado. Da
mesma forma, as relações com
ONGs e associações diversas
através de financiamentos
que as capitalizaram, criando
dependências. As relações
com parlamentares tem sido,
digamos, plástica.
Como serão as reações desse conjunto à alternância de
governo? Será um processo
normal como nas sociedades
democráticas ou haverá um
estressamento das relações
com o novo governo, se da
oposição, numa espécie de inconformismo? Essa disjuntiva
não se aplica só à oposição.
Lembrem-se as dificuldades dos governos do PT nos
anos 90 na cidade de São Paulo, em Brasília e em Fortaleza
ao não incorporarem todas as
expectativas das corporações
que continham. Para garantir
a estabilidade política e a paz
social no próximo governo, há
que se ter paciência, amplitude e capacidade de incorporação, de forma a que se afirme o
programa de governo.
Sua aplicação não deverá
ser excludente e muito menos
traumática. Não há por que os
sindicatos, centrais sindicais,
movimentos sociais, ONGs e
outras organizações ou parlamentares plásticos imaginarem que a alternância democrática, ou mesmo o novo estilo presidencial, serão sobrepartidarizados como têm sido.
No vetor central, as relações
com o Legislativo. Num país
onde nenhum partido alcança
20% das cadeiras, a flexibilidade deverá trazer a representação parlamentar para um
campo de negociações permanentes, a partir dos limites que
afirmam o interesse público
sobre o pessoal.
Que o apoio parlamentar
suficiente, sem verticalidade,
impeça o imobilismo e garanta a governabilidade. Da mesma forma, em relação à Federação, renovando o pacto federativo apartidariamente,
sem submissão dos Estados,
invertebrados e de pires nas
mãos, como estão.
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta
coluna.
cesar.maia@uol.com.br
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