São Paulo, domingo, 17 de julho de 2011

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FÁBIO ZANINI

Dilma na toca

Na avaliação de um assessor de Dilma Rousseff, a atual crise econômica mundial pode ser ainda pior que a de 2008. Dessa vez, há diversos centros simultâneos de turbulência, o mercado de títulos está ameaçado e o ambiente político nos EUA foi envenenado. Não é só uma freada no PIB o que está no horizonte.
A presidente, tardiamente, começou a prestar atenção no assunto. Na quinta-feira, em palestra a empresários gaúchos, fez breve referência ao principal tema hoje da agenda internacional. Prometeu que "tensões que explodem lá fora nos estimulam a agir com coragem, com ousadia".
É muito pouco. Dilma moveu o pêndulo da política internacional para o outro extremo, depois dos cansativos anos Lula. Não fala, não se importa, não viaja.
Num momento em que Cristina Kirchner preocupa-se com sua reeleição, Chávez frequenta o noticiário médico e o México é consumido pelos cartéis, Dilma tem uma avenida para ser a voz mais influente do continente. Estranhamente, não a usa.
A lei da política de que não há espaço vazio vale também para a diplomacia. O colombiano Juan Manuel Santos, presidindo uma economia que é 20% da brasileira, desponta hoje como a nova face da América Latina.
Há sinais de que Dilma finalmente vai sair do casulo no segundo semestre. Em setembro, irá aos EUA abrir a Assembleia Geral da ONU, seguindo tradição da diplomacia brasileira que Lula respeitava religiosamente.
Venderá seu peixe: direitos humanos, o combate à miséria e o papel das mulheres são temas certos no discurso, que já está sendo elaborado.
No dia seguinte, participa de um seminário da ONU sobre segurança de instalações nucleares. Também fará viagens ao Peru, à sede da Comissão Europeia (na Bélgica) e à África do Sul -talvez emendando um minitour africano.
Provavelmente em janeiro de 2012, Dilma deve retribuir a vinda de Barack Obama ao Brasil em março, em uma visita de Estado aos EUA.
Há uma corrente minimalista nas relações internacionais que diz que influência vem por inércia. Bastaria ao Brasil continuar a crescer economicamente para conquistar espaços internacionais, em fóruns, organizações ou via "poder suave" (como intercâmbio cultural e assistência ao desenvolvimento).
Dilma, quieta e feliz, poderia dedicar-se a salvar o trem-bala e almoçar com o PR.
Há dois riscos nessa abordagem. O primeiro, conceitual: diplomacia presidencial importa, e o ponto exato entre mudez e megafone é difícil de encontrar.
O segundo, circunstancial: vem crise brava por aí. Sem o empuxo da economia e com uma presidente introspectiva, o Brasil pode andar para trás numa das genuínas conquistas do governo Lula, um lugar melhorzinho no mapa-múndi.

FÁBIO ZANINI é editor de Mundo.


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