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Para crescer
Queda do juro básico favorece realocação da poupança financeira na produção, via crédito; operação é decisiva
UM DOS principais enigmas das finanças brasileiras é explicar por
que o custo do crédito
permanece tão elevado a despeito dos avanços institucionais e
da melhora geral nos indicadores
econômicos. De acordo com o
Banco Central, as taxas de juros
médias cobradas das empresas,
em junho, eram de 28,8% ao ano;
das pessoas, quase o dobro. Não é
à toa que o país ostenta um dos
mais baixos volumes de crédito
do mundo (32,4% do PIB).
É verdade que a taxa de juros
básica (Selic) é elevada, que a tributação nos empréstimos é excessiva e que os depósitos compulsórios são gigantescos (R$
155,7 bilhões). Apenas esse volume de recursos que os bancos são
obrigados a remeter ao BC supera o saldo de empréstimos à indústria (R$ 145,1 bilhões).
Os últimos governos implantaram um conjunto de aperfeiçoamentos institucionais visando à
redução do custo do crédito. Foi
o caso da Central de Risco de
Crédito, da Lei de Falências e de
inovações nas garantias, como a
alienação fiduciária para imóveis
e o crédito com desconto em folha de pagamento. Em 2001, o
cliente obteve o direito de levar
sua ficha cadastral quando decidir mudar de banco, medida que
objetivava acirrar a concorrência
entre as instituições.
Procura-se agora acelerar a
tramitação no Congresso da regulamentação dos "cadastros positivos". Neles constarão todas as
informações dos clientes, tanto
positivas quanto negativas, o que
permitirá aos bancos distinguir
bons e maus pagadores, possibilitando uma diferenciação nos
juros cobrados. O governo também promete para os próximos
dias um pacote de medidas no intuito de induzir uma baixa nos
"spreads" bancários -a diferença entre o custo de captação e os
juros cobrados do tomador final.
Estuda-se a redução da alíquota do Fundo Garantidor de Créditos, que serve para ressarcir
correntistas até o limite de R$ 20
mil em caso de falência do banco.
O fundo possui R$ 9,5 bilhões em
caixa, volume considerado suficiente para cobrir emergências.
O governo também avalia diminuir o "spread" das instituições financeiras federais e facilitar a transferência de recursos
da folha de pagamento de um
banco para outro, na expectativa
de que tenha impacto para aumentar a competição no sistema.
Todas essas ações são importantes e cada uma representaria
um avanço pontual na direção
desejada. É fundamental ter em
mente que o momento é dos
mais propícios para implementar fórmulas de estimular o barateamento do crédito nos filões e
nas modalidades mais nobres.
A perspectiva de manutenção
da bonança -embora não exagerada- na economia internacional sustenta no horizonte o cenário de queda da taxa básica de
juros brasileira. Tal ambiente já
leva os agentes a procurar aplicações financeiras alternativas aos
títulos públicos, o que pode estimular um ciclo de crescimento
sólido do PIB ou redundar em
mais uma oportunidade perdida.
Tudo dependerá de como autoridades, bancos, investidores e
empresas do setor produtivo vão
conduzir essa delicada reciclagem da poupança financeira.
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