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ELIANE CANTANHÊDE
Antes de novo desastre
BRASÍLIA - Os maiores especialistas ainda não conseguem responder com segurança duas questões
básicas: 1) a crise é grave e duradoura ou superficial e rápida?; 2) até
onde pode atingir o Brasil?
A crise já ocupa as manchetes há
uma semana, deixou claro que a expectativa de crescimento dos EUA
vai cair e afetou as Bolsas e o dólar
no Brasil, como, de resto, em todo o
mundo, um mundo "globalizado",
para o bem e para o mal.
Esse cenário não parece evoluir
para recessão nos EUA e quebra de
uma instituição de grande porte,
gerando uma crise sistêmica, um
castelo de cartas. O momento, porém, não é de tranqüilidade.
Aos trancos e barrancos, o Brasil
aprendeu muito com quatro crises
internacionais nos governos de
FHC, as do México, da Ásia, da Rússia e da Argentina. Hoje, os indicadores macroeconômicos são mais
sólidos e as reservas estão em US$
160 bi. Mas há temor de reflexos no
crescimento, nos investimentos e
no comércio. Cerca de 30% das exportações são para os EUA. Se a
economia americana cresce menos,
o Brasil vende menos.
O que mais preocupa é a capacidade do governo Lula de gerir crises. Já imaginou se for com a mesma rapidez e competência do apagão aéreo? Até agora não se viu, ouviu ou leu sobre providências de
Lula e da equipe econômica. Aliás,
nem mesmo de meras reuniões de
avaliação, algo elementar para evitar surpresas e correrias depois.
O Brasil soube todo o tempo da
dimensão e dos solavancos da crise
aérea, mas, dez meses e os dois
maiores acidentes da história depois, o presidente da República declarou candidamente que não tinha
noção da gravidade da situação.
Provavelmente, não tem televisão
em casa.
Agora, o Brasil e o mundo estão
sabendo e sentindo os solavancos
da crise econômica. Espera-se que
Lula não leve novamente dez meses
para ver, ouvir, ler. Ou seja, para saber e agir antes de novo desastre.
elianec@uol.com.br
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