São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008 |
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CLÓVIS ROSSI Corajosa confissão
SANTANDER - Já escrevi sobre a
possibilidade, mas, ainda assim,
causa choque de alta voltagem a
manchete de ontem desta Folha:
"Governador do Rio pede Exército
para garantir eleições".
Não que governador pedir tropas
para garantir eleições seja novidade na pátria. Novidade é o fato de o
pedido partir do governador do Rio
de Janeiro, não do governante de
algum Estado permanentemente
assolado pela violência dos "coronéis" da política interiorana.
Desconfio que, nos grotões, os
"coronéis" desapareceram ou foram substituídos por um coronelismo mais sofisticado, apoiado não
na força bruta de capangas, mas no
desvio de verbas públicas ou no
abuso da máquina do governo.
Já no coração e câmara de eco do
Brasil, que é o Rio de Janeiro, o pedido de Sérgio Cabral explicita a
existência e a força de um tipo de
violência incomparavelmente mais
perigosa.
Afinal, sempre que foram usadas
tropas federais para evitar violência eleitoral, tratou-se de casos localizados, pontuais. Agora, não.
Trata-se de "garantir o ir e vir de
candidatos e da imprensa", diz o
governador. Trata-se, portanto, de
garantir princípio básico da vida
em sociedades abertas. Pior: o governador não está preocupado apenas com a violência pré-eleitoral.
Quer tropas para "o combate à criminalidade, a tranqüilidade da sociedade" e, "de preferência", que fiquem depois da eleição.
É raro ouvir uma confissão tão
aberta de impotência para assegurar a vida e o direito de ir e vir, não
apenas de candidatos e jornalistas,
mas dos habitantes do Rio em geral. Igualmente difícil é encontrar
políticos com coragem suficiente
para reconhecer os fatos como os
fatos são. Resta saber se o Brasil
adotará idêntico comportamento
ou continuará fingindo que a violência -no Rio ou em outras partes- não cria uma emergência que
exige ações excepcionais.
crossi@uol.com.br |
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