São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008

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CARLOS HEITOR CONY

O voto obrigatório

RIO DE JANEIRO - Recente pesquisa divulgada na semana que acaba revelou que grande parcela do eleitorado nacional é contra o voto obrigatório. Não se trata, ainda, de maioria, mas de simples tendência que está indicando a conveniência de uma discussão formal sobre o assunto.
Uma sociedade é livre na medida em que são mínimas as exigências obrigatórias: os códigos civil, penal, de trânsito e outros de igual necessidade são suficientes para manter direitos e deveres das comunidades e dos cidadãos.
O voto obrigatório é a causa principal que cria os currais eleitorais, os votos de cabresto. Por um motivo qualquer, o cidadão não tem interesse na vida pública, por falta de educação ou por excesso dela. Obrigado a votar, para não sofrer sanções que não chegam a ser punitivas mas apenas incômodas, cumprem o chamado dever cívico com má vontade, votando em qualquer um, ou em candidatos extravagantes que nem chegam a ser candidatos, como no caso do bode Cheiroso.
Grandes massas de eleitores, sobretudo nas cidades pequenas, são facilmente manobradas por coronéis e donos de redutos que formam os grotões - tradicional fonte de votos para políticos fisiológicos que tentam a vida pública para a realização de uma carreira pessoal problemática.
Até mesmo no caso da eleição para presidente da República, quando o eleitorado recebe maiores esclarecimentos e está em jogo uma esperança, os indecisos e nauseados são cada vez em maior número, criando a realidade da "boca de urna", o voto de última hora, apenas para cumprir o dispositivo do voto obrigatório.
Nem vale a pena citar os países de tradição democrática em que votar ou não votar é um direito do cidadão livre. Sob regimes ditatoriais, a presença dos eleitores nas urnas chega a 99%.


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