São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2010 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Inovação em medicamentos
JOÃO MASSUD FILHO
Estimativas indicam que, em 1950, o desenvolvimento de um novo medicamento custava cerca de US$ 1,5 milhão, e o dossiê para registro sanitário continha menos de cem páginas. Atualmente, calcula-se um custo de desenvolvimento em torno de US$ 1 bilhão, e o dossiê de registro chega a 300 mil páginas. Ao longo do tempo, houve um aumento significativo das exigências científicas, éticas e legais para desenvolver produtos farmacêuticos seguros e eficazes. O exemplo infeliz da talidomida foi o marco decisivo para essa busca. Os dados relativos ao aumento da longevidade, diminuição dos eventos cardiovasculares, tratamento da Aids, cura de alguns tipos de câncer e cura de doenças infecto-contagiosas são a melhor resposta àqueles que demonizam a indústria farmacêutica e as pesquisas clínicas que buscam novas opções terapêuticas. A inovação é fundamental para o desenvolvimento de produtos que aliem melhor eficácia e segurança. Se assim não fosse, ainda estaríamos usando reserpina para o tratamento da hipertensão arterial. Essa droga, apesar de limitadamente efetiva, induzia à depressão e ao suicídio em um número significativo de pacientes. O desenvolvimento de um produto farmacêutico pode levar até 15 anos. Isso significa que produtos hoje revolucionários foram concebidos no final da década de 90. A indústria multinacional procura desenvolver estudos clínicos com seus produtos em diversos países para cobrir o máximo possível da amostragem étnica. Nesse sentido, é preciso que se diga que 80% das pesquisas clínicas são feitas nos EUA, na Europa e no Japão. Devemos lembrar que o Brasil é um das dez maiores economias do planeta e um dos dez maiores mercados farmacêuticos. No entanto, recebemos menos de 1% de todo o investimento em pesquisa e desenvolvimento. Por que isso ocorre? No Brasil, sofremos com a burocracia, a ideologia e o descaso para com os doentes que poderiam ser incluídos nas pesquisas clínicas. Qual portador de câncer com pouca perspectiva de cura não se candidataria a participar de uma pesquisa clínica que lhe dê uma esperança? Esse direito individual deve ser respeitado, e não ser submetido à tutela do Estado. Qual a vantagem desses estudos para a nossa população? Dar chance para um novo tratamento, melhorar o conhecimento científico, capacitar melhor os centros de pesquisa e atrair investimentos que podem se reverter em benefícios comunitários. Nos EUA, Alemanha e Inglaterra, um pedido para levar uma nova molécula da fase de pesquisa para a fase 1 (primeiro uso no ser humano) leva quatro semanas. No Brasil, este tempo varia de seis a 12 meses. E não porque sejamos mais éticos ou rigorosos. Somos, na verdade, mais burocráticos e enviesados ideologicamente. Se quisermos um país soberano em toda a sua plenitude, devemos incentivar a pesquisa e desenvolvimento em todas as áreas do conhecimento, iniciando-se na saúde. JOÃO MASSUD FILHO, 61, médico, é professor do curso de especialização em medicina farmacêutica da Universidade Federal de São Paulo. Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Ives Gandra da Silva Martins: 2,92% x 2,9% do PIB mundial Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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