São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 2002

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LIÇÕES DE CLINTON

É interessante comparar o que disse o presidente George W. Bush na quinta-feira passada, na sede das Nações Unidas, com o que escreveu o seu antecessor Bill Clinton em artigo que esta Folha publicou no domingo.
Emitindo mensagens que mais se assemelham a ultimatos, Bush foi monotemático. Pressionou a ONU para que adote a linha dura contra o regime do ditador Saddam Hussein. Já Clinton, com sutileza, não deixou de criticar a definição de prioridades do seu sucessor. Afirmou que a necessidade de enfrentar a ameaça iraquiana "não é tão imediata quanto a de reiniciar o processo de paz no Oriente Médio e interromper a violência nessa região e pode não exigir uma invasão." Além disso, elencou uma série de ações visando à obtenção de maior cooperação internacional que foram simplesmente abandonadas por Bush.
Foi drástica e rápida a mudança na condução da política externa norte-americana quando da passagem de Clinton para Bush. Alguns dos mais importantes eixos da agenda multilateralista empreendida durante oito anos de gestão democrata foram deixados de lado. Os trágicos atentados a Nova York e Washington atuaram como forte catalisador nesse processo. Mas, já na campanha de Bush e em alguns atos de sua gestão anteriores ao 11 de setembro, a sua firme intenção de empreender uma guinada unilateralista havia ficado clara.
Clinton não deve ser visto como um "superpresidente", ou como um benfeitor da humanidade. Como todo chefe do Estado mais poderoso do planeta, o democrata não fugiu à regra de buscar, sempre, aumentar a predominância política, econômica e militar do seu país. Mas os meios pelos quais a gestão Clinton agia para atingir esses objetivos eram, no mínimo, menos destrutivos para a teia das relações internacionais.


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