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Editoriais
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Para cumprir tabela
O GOVERNO Lula deixa a impressão de que, com sua
proposta de alterar a caderneta de poupança, entra em
campo para cumprir tabela -como se diz, no futebol, dos times
que não têm mais nenhuma pretensão no certame. A aprovação
do projeto no Congresso será irrelevante para a condução da
economia no ano que vem.
A irrelevância começa pelos
frágeis meios que o projeto pretende mobilizar para lidar com
um problema estrutural. Juros
tabelados em pelo menos 6,14%
ao ano, como os da caderneta, de
fato ajudam a proteger a renda
popular em ambientes de inflação alta e taxas de juros estratosféricas. À medida que o cenário
macroeconômico se normaliza,
entretanto, a tradicional aplicação começa a distorcer o jogo.
Enquanto outras taxas de juros
baixam, a da poupança permanece fixa. A caderneta constitui, assim, uma trava que impede a
queda dos juros básicos até os
desejados níveis internacionais.
Além disso, como os bancos são
obrigados a destinar 65% do que
captam na poupança a empréstimos habitacionais, um afluxo cavalar de dinheiro rumo à caderneta produziria escassez de crédito, com provável alta de taxas,
em outros setores.
Gravar com Imposto de Renda
o rendimento da aplicação que
ultrapassar R$ 50 mil não vai alterar os termos daquela equação.
Não seria suficiente para evitar
uma corrida para a caderneta em
caso de nova queda acentuada
dos juros de mercado. O maior
desestímulo a essa migração, na
verdade, já está em cena. Difunde-se a expectativa de que o Banco Central não voltará a reduzir a
Selic, hoje em 8,75% ao ano, nem
em 2009, nem em 2010.
O conservadorismo do BC, em
suma, vai livrar o presidente Lula da necessidade de tratar de um
assunto politicamente espinhoso em ano eleitoral. O país mantém, assim, a tradição de adiar e
maquiar reformas que acelerem
a modernização da economia.
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