São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

O ano que vai começar

BRASÍLIA - Com os ex-grevistas no poder e a economia praticamente estagnada, as greves perderam a graça e muito do seu poder de pressão. Mas não morreram.
Lula é o maior líder sindical da história do Brasil e foi no rastro desse movimento que fez carreira política, disputou eleições e virou presidente da República. Deve, pois, pressentir o que vem, ou pode vir, por aí.
Seu governo já conviveu, direta ou indiretamente, com greves de servidores federais, da Polícia Federal, da Justiça de São Paulo, de metalúrgicos e esta última, dos bancários, que durou um mês até sexta-feira.
Ninguém se apavorou nem deu muita bola, não houve manifestações emocionantes e o retorno para os grevistas não foi tanto assim. Ministros como Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e Olívio Dutra (Cidades) honraram suas próprias origens e apoiaram a greve dos bancários.
Se alguém perdeu foram, por exemplo, os usuários da Justiça paulista, que nunca funciona direito mesmo, e os correntistas de bancos, que hoje têm a internet e os caixas eletrônicos.
A questão é que a economia dá sinais de reaquecimento. E isso significa duas ameaças: aumento de inflação, sempre usada para manter juros estratosféricos, e aumento de emprego, renda e... demandas sociais.
Por enquanto, Lula e o PT só pensam naquilo: a eleição de Marta Suplicy em São Paulo, que está difícil, e dos demais petistas e aliados que disputam o segundo turno. Mas, depois, é bom voltarem os olhos para o país real, o da rotina, o dos cidadãos, o dos grevistas em potencial.
Na sexta-feira, os funcionários da Petrobras recuaram da decisão de fazer uma greve de cinco dias, mas demonstraram claramente que estão prontos para eventualidades. Não são os únicos.
Se 2004 é o ano das eleições, 2005 pode virar o ano das greves. Tudo depende da mobilização dos diferentes setores trabalhistas e também da economia e do jeitão PT de governar. Lula vai ter um olho no passado e outro no futuro. O ex-líder sindical agora é candidato à reeleição.


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