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PLÍNIO FRAGA
Baseado na virtude
RIO DE JANEIRO - Olhe para o lado: se houver mais duas pessoas
além de você por perto, as estatísticas mostram que um dos três fumou maconha, ao menos uma vez
na vida. Se você não fumou, pergunte aos seus vizinhos.
Não precisou nem o entrevistador apertar: Fernando Gabeira
(PV) e Eduardo Paes (PMDB) assumiram em debate ter fumado maconha, juntando-se a uma tropa da
elite política que reconheceu ter
usado a droga, integrada por nomes
como os ex-presidentes Fernando
Henrique Cardoso e Bill Clinton e o
atual prefeito de Nova York, Michael Bloomberg. Isso para não citar expoentes deste e de outros
tempos, como Bill Gates, Steve
Jobs, Shakespeare e Baudelaire.
Entre os grandes personagens da
política, o Brasil tem precedência.
Numa entrevista em 1984, FHC
afirmou: "Olha, uma vez eu estava
em Nova York, num bar famoso que
tem lá, em um banquete com meus
primos, primas e tal, e alguém deve
ter acendido um negócio de maconha, passou aquilo e eu achei horrível... Um cheiro horroroso". Na
campanha pela Prefeitura de São
Paulo, no ano seguinte, contra Jânio Quadros, panfletos chamando
FHC de maconheiro e ateu inundaram a cidade. Jânio Quadros venceu, mas não só por isso, claro.
Oito anos depois, durante a campanha presidencial norte-americana, Bill Clinton disse que queimara
a Cannabis sativa quando estudante universitário. "Fumei, mas não
traguei", tentou justificar.
O bilionário Michael Bloomberg,
na corrida pela Prefeitura de Nova
York, venceu a eleição, mesmo tendo sido direto ao responder a um
jornalista se já havia fumado maconha: "Com certeza. E gostei!"
Baudelaire sugeria ser necessário
embriagarmo-nos de vinho, poesia
ou virtude. Se todos já fumaram o
bastante, talvez esteja próxima a
hora da embriaguez de virtude.
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