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CESAR MAIA
Chavismo
por aqui?
CADA DIA MAIS , políticos brasileiros -ditos- de esquerda
perdem a inibição de elogiar
Chávez. Um dos elementos da estabilidade política brasileira foi o PT
na Presidência da República e o
exercício do poder dentro das
regras do jogo.
O PT tem dois vetores. De um lado, o sindicalismo, social-liberal
por natureza, na dialética empregado-empregador, e pela sólida posição da CUT em sindicatos de
bens duráveis de consumo, não estatizáveis. Em crises, reduzem-se
os impostos. Do outro lado, a esquerda -dita- de origem revolucionária, que controlou a direção
do partido até o "mensalão", quando caiu, arrastando a anterior. A
partir daí, os sindicalistas assumiram a direção do partido.
O comando do PT pelo sindicalismo e a presença hegemônica em
postos-chave do governo, do presidente aos fundos de pensão, conselhos do FGTS e do FAT, são um duplo poder. O Bolsa Família caiu como uma luva por sua marca social-liberal de igualação do ponto de
partida. Com isso, associa a distância sindicalismo e marginalizados.
Aliás, a transposição de líderes
sindicais a dirigentes partidários
foi criticada por Lênin em seu "O
Que Fazer" (1902). E Marx e Engels nunca integraram os marginalizados ao proletariado e repetiam
que o lumpemproletariado era a
massa de manobra do capital ("Manifesto", 1848).
Os poderes, partidário e governamental, assumidos pelos sindicalistas da CUT, do ponto de vista
da estabilidade política, não gera
riscos, por sua natureza social-liberal. Porém, como forma de sinalizar aos militantes do PT um sentido tático nas ações de governo,
usa-se a política externa em relação ao hemisfério Sul. Por sorte,
Chávez radicalizou na frente, e a
parte visível da política externa
brasileira foi a moderação do presidente. Por mais sinais chavistas dados pelo co-chanceler-sul, o Brasil
foi empurrado para o centro por
Chávez.
Quando Lula indicou uma candidata da -dita- esquerda revolucionária para presidente, criou
uma sensação de descontinuidade
no caso de vitória. Mas os meses foram mudando essa sensação, e veio
um certo alívio. Até a informação
de que o coordenador-geral da
sua campanha será o co-chanceler-sul, ostensivamente mesclado ao
chavismo.
O desdobramento pós-eleitoral
dos coordenadores-gerais de campanha é sempre uma posição destacada no governo (Sergio Motta,
Dirceu-Palocci). Dessa forma, o
que se pode esperar dessa decisão,
de proximidade orgânica com o
chavismo, é a certeza disso, e desde
agora. Uma notícia preocupante
para os que têm a democracia como estratégia, e não só como tática.
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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