São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2010

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EMÍLIO ODEBRECHT

Educação pelo trabalho

A imprensa, de uns meses para cá, vem dando grande destaque à escassez de mão de obra qualificada em vários setores da atividade produtiva no Brasil. Entretanto, não tenho visto, na mesma proporção, notícias sobre os investimentos que muitas empresas estão fazendo para qualificar trabalhadores.
Esse é daqueles movimentos discretos, mas com potencial para mudar a face de uma nação, porque a educação no e pelo trabalho é o tema contemporâneo mais estratégico para uma organização que tem os olhos postos no futuro.
Canteiros de obras, fábricas, campos agrícolas: onde quer que se reúnam pessoas para qualquer ação produtiva é essencial que alguma atividade de ensino-aprendizagem ali aconteça. O processo educativo que se dá via trabalho é uma força que impulsiona a empresa no rumo da perpetuidade, razão pela qual várias delas o assumem como parte de sua essência.
Por outro lado, investir na educação de jovens e no aperfeiçoamento de profissionais das comunidades onde as empresas atuam transitória ou permanentemente é um dever de cidadania que proporciona um sentimento de autorrealização para as próprias empresas e para seus integrantes.
As que assim o fazem, se deram conta de que o trabalho, por si só, é um poderoso instrumento pedagógico. É trabalhando que as pessoas interferem na realidade ao seu redor, produzem alimentos, erguem cidades, geram riquezas. O trabalho é fator de transformação. Se mudamos o mundo através dele, nada mais lógico que também ele mude aquilo que somos.
A qualidade final de um produto ou serviço está ligada à qualificação do trabalhador responsável pelo mesmo. Tal qualificação é determinada pela formação intelectual e moral e pelo domínio da técnica específica que tem este profissional. Sendo assim, o compromisso das empresas com a educação de seus integrantes, levado à prática de forma sistemática e estruturada, é parte do contrato que as mesmas assinam com seus clientes, sem esquecermos que quem ensina aprende e se recicla.
E há ainda a construção do caráter que se dá por esta via.
Educados na labuta diária atrás de objetivos, no companheirismo e na ética de seu ofício, homens e mulheres têm a oportunidade de se realizar profissionalmente, pelo domínio do seu saber e do seu fazer específico; economicamente, pela retribuição que obtêm, a partir da riqueza que geram, partilhando os resultados que produzem; e emocionalmente, pela plenitude que se alcança no ato de servir.
A educação pelo trabalho, por fim, é fator de preservação da cultura das organizações, que é o mais valioso dentre os ativos intangíveis.


EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.

emilioodebrecht@uol.com.br


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