São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2011 |
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Editoriais editoriais@uol.com.br Depois da primavera A eleição na Tunísia no próximo domingo representa o primeiro teste democrático para a onda de revoltas no norte da África e no Oriente Médio que ficou conhecida como Primavera Árabe. A Tunísia -onde a "Revolução de Jasmim" derrubou, em janeiro, a ditadura de 23 anos de Ben Ali- foi o foco inicial dos levantes. Ainda que haja muitas diferenças com Egito e Líbia -os outros dois até aqui a se livrarem de seus ditadores- o resultado da eleição será um importante indicativo de para onde ruma o movimento. A principal dúvida é saber qual papel desempenharão as forças islamitas. Promessas de seguir o "modelo turco", moderado e compromissado com a laicidade do Estado, foram amplamente veiculadas num primeiro momento, até para obter apoios no Ocidente. Agora, serão colocadas à prova. Na Tunísia a situação parece mais nítida que no Egito e na Líbia. O principal partido islâmico, o Ehnada, lidera as pesquisas com plataforma conciliatória, distanciada de seu antigo radicalismo. Não advoga, por exemplo, a adoção da Sharia, a lei islâmica. O país é o único a ter um roteiro traçado rumo a um regime estável com representatividade popular, embora essa trajetória não esteja livre de percalços. A eleição deste domingo vai escolher uma Assembleia Constituinte, que por sua vez definirá o modelo do regime. Depois disso, no ano que vem, deve haver eleição para escolher o líder do governo. No Egito, país de maior peso político na região, a situação é mais ambígua. O processo eleitoral começa no mês que vem e termina apenas em março, com votações em vários estágios. O Parlamento eleito não será exclusivamente constituinte, e seu funcionamento se dará, em parte, ainda com base nas leis da antiga ditadura de Hosni Mubarak. A Irmandade Muçulmana, uma das maiores forças político-religiosas do mundo islâmico, é a favorita no pleito egípcio. Causa preocupação o grupo não ter delimitado que grau de influência defende para a religião no futuro governo. Mantém-se adepto, por exemplo, da imposição da Sharia. Esse fator tende a aumentar o potencial de conflitos com os cristãos da vertente copta, que perfazem quase 10% da população. Há uma semana, 23 cristãos foram mortos pela polícia no Cairo, durante protesto contra a depredação de uma igreja. Na Líbia, os rebeldes ainda estão ocupados demais combatendo os últimos focos do regime de Gaddafi para planejarem os próximos passos. O florescimento de regimes representativos estáveis, com respeito aos direitos da minoria e condições de vida mais dignas para seus cidadãos, será fundamental para o julgamento, no futuro, do legado da Primavera Árabe. Texto Anterior: Editoriais: Carga pesada Próximo Texto: São Paulo - Vinicius Mota: A maldição de Guadalajara Índice | Comunicar Erros |
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