São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Indexação nunca mais!

É claro que a disparada do dólar funcionaria como gatilho da inflação. As consequências já chegaram. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC-Fipe) subiu 1,55% na primeira quadrissemana de novembro. Para o setor varejista da Grande São Paulo, o Índice de Preços do Varejo (IPV-Fecomercio) registrou uma taxa de 3,91% para o mesmo período, prometendo fechar o ano na casa dos 20%!
Tudo isso é muito preocupante. A inflação desarruma a economia e afasta os investimentos. Recentemente, o Banco Central elevou a taxa básica de juros de 18% para 21% e não será surpresa se vier a aumentá-la nas próximas semanas.
O novo governo assumirá o poder em situação mais difícil do que se esperava há seis meses e, provavelmente, no meio de um cenário internacional marcado por incertezas, o que deve reduzir o tão necessário fluxo de capitais estrangeiros para o Brasil. Em 2002, recebemos cerca de US$ 14 bilhões, bem menos do que precisávamos. Sabe lá o que receberemos em 2003...
Isso não pode continuar. No ano que vem, temos de recuperar as perdas de 2002 e tudo fazer para atrair, pelo menos, US$ 20 bilhões de capitais produtivos. Para tanto, vale repetir, serão necessárias a manutenção da mais absoluta austeridade nas contas públicas e a realização, de uma vez por todas, das reformas previdenciária, tributária e trabalhista -o que o novo governo promete fazer.
O que dá mais medo são as insensatas conversas a respeito da volta da indexação. Foi animador ver as autoridades do novo governo descartarem esse expediente. Elas terão de ser muito firmes nessa postura. As pressões serão colossais.
A reindexação da economia brasileira seria o maior retrocesso. A população como um todo, assim como os trabalhadores e as empresas, ainda sofrem as consequências da dura saída daquela sinistra arapuca em 1994.
Não podemos pôr tudo a perder. Na corrida entre preços e salários, todos perdem. A indexação é um narcótico que gera um estado de fantasia, do qual nada se retira, como, de resto, acontece com todos os entorpecentes.
Os primeiros seis meses de 2003 estão se apresentando como muito difíceis. Mas não podemos esmorecer. As empresas precisam entrar com um sacrifício adicional a fim de garantir a oferta de produtos aos preços mais baixos possíveis. Os sindicatos terão de modular seus pleitos de forma a garantir a competitividade. Aos bancos cabe segurar os juros. E ao governo, atacar as causas do descontrole das finanças públicas (fazendo as reformas!) para que, em 2003, tenhamos um segundo semestre melhor do que o primeiro.
Esse é o verdadeiro pacto de que a nação precisa. Não há muito o que conversar. É cada um fazer a sua parte imediatamente.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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