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CPI DISPENSÁVEL
Criada por iniciativa governista
como contraponto à CPI dos
Correios, a CPI do Mensalão foi uma
tentativa de estender as investigações
sobre denúncias de suborno de parlamentares ao primeiro governo Fernando Henrique Cardoso. Como se
sabe, o caso da compra de votos para
a aprovação da emenda da reeleição,
levantado e noticiado por esta Folha,
terminou sem ter sido objeto de investigações aprofundadas por parte
das autoridades competentes.
O atual governo e o PT viram nessa
circunstância uma oportunidade para intimidar o PSDB e o PFL e negociar em melhores condições seus interesses na CPI dos Correios. Ao que
parece, nem mesmo para isso a comissão foi útil. Suas "investigações"
chegaram ao fim sem que nada de
novo fosse apurado, tanto no que
tange ao "mensalão" quanto ao caso
do governo anterior. De mais palpável, a CPI apresentou uma lista exígua de parlamentares "cassáveis".
Sua superficialidade pode ser medida pelo fato de o relator Ibrahim Abi-Ackel ter admitido que não atentou
para a data de encerramento dos trabalhos -ontem. Até o fechamento
desta página, as chances de prorrogação pareciam escassas.
Por não se ter fixado na data final,
Abi-Ackel não havia preparado o relatório com a desejável antecedência,
embora tivesse adiantado que a comissão não encontrou evidências de
repasses mensais de recursos do esquema PT-Marcos Valério para parlamentares. Como já fez o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, em recente
entrevista ao programa "Roda Viva",
essas conclusões incentivam o governo a dizer que o "mensalão não
existiu" -mesmo que o distraído
Abi-Ackel e seus colegas tenham
constatado a existência de "um sistema de distribuição de recursos ilícitos" para partidos e parlamentares.
Como já se comentou neste espaço, a periodicidade desses pagamentos destinados a consolidar a base de
apoio do Executivo no Legislativo
não é o que mais importa -a não ser
que alguém acredite que a corrupção
à vista seja menos corrupção do que
aquela consumada a prazo.
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