São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 2005

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CPI DISPENSÁVEL

Criada por iniciativa governista como contraponto à CPI dos Correios, a CPI do Mensalão foi uma tentativa de estender as investigações sobre denúncias de suborno de parlamentares ao primeiro governo Fernando Henrique Cardoso. Como se sabe, o caso da compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição, levantado e noticiado por esta Folha, terminou sem ter sido objeto de investigações aprofundadas por parte das autoridades competentes.
O atual governo e o PT viram nessa circunstância uma oportunidade para intimidar o PSDB e o PFL e negociar em melhores condições seus interesses na CPI dos Correios. Ao que parece, nem mesmo para isso a comissão foi útil. Suas "investigações" chegaram ao fim sem que nada de novo fosse apurado, tanto no que tange ao "mensalão" quanto ao caso do governo anterior. De mais palpável, a CPI apresentou uma lista exígua de parlamentares "cassáveis". Sua superficialidade pode ser medida pelo fato de o relator Ibrahim Abi-Ackel ter admitido que não atentou para a data de encerramento dos trabalhos -ontem. Até o fechamento desta página, as chances de prorrogação pareciam escassas.
Por não se ter fixado na data final, Abi-Ackel não havia preparado o relatório com a desejável antecedência, embora tivesse adiantado que a comissão não encontrou evidências de repasses mensais de recursos do esquema PT-Marcos Valério para parlamentares. Como já fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em recente entrevista ao programa "Roda Viva", essas conclusões incentivam o governo a dizer que o "mensalão não existiu" -mesmo que o distraído Abi-Ackel e seus colegas tenham constatado a existência de "um sistema de distribuição de recursos ilícitos" para partidos e parlamentares.
Como já se comentou neste espaço, a periodicidade desses pagamentos destinados a consolidar a base de apoio do Executivo no Legislativo não é o que mais importa -a não ser que alguém acredite que a corrupção à vista seja menos corrupção do que aquela consumada a prazo.


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