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Asas ao descontrole
Governo despreza código militar, trata controlador de vôo com lógica sindical e cogita colocar tráfego aéreo sob ameaça perene
A INÉPCIA vem marcando
a ação das autoridades
na crise do tráfego aéreo. Pela segunda vez
em menos de um mês, controladores de vôo escarnecem de seus
superiores, do governo federal e
dos usuários do sistema e não
encontram reação à altura. À
frente da Defesa, Waldir Pires
vem tratando a crise sob um prisma sindical, o que é espantoso
para um ministro de Estado.
O acidente que vitimou 154
pessoas no final de setembro
marcou o início do processo de
"autodescoberta" da força dos
controladores de vôo. O sindicato clandestino que se veio formando ao arrepio da lei -75%
dos operadores são militares e
estão impedidos de organizar-se
desse modo- faria justiça se elegesse Pires como seu patrono.
Foi o titular da Defesa uma das
primeiras autoridades a sair ao
amparo dos controladores de
vôo logo após a tragédia com o
avião da Gol. Quando a investigação sobre as causas do acidente
estava apenas começando, Pires
contribuiu para uma autêntica
patriotada, que, de modo apressado, visava a descarregar a culpa
nos pilotos americanos do jato
que se chocou com o Boeing e
poupar os responsáveis pelo fluxo aéreo.
Já em plena "operação-padrão", o nome que tenta dar verniz tecnocrático a um movimento grevista, Waldir Pires ministrou lições avançadas do curso
de formação sindical aos rebelados. Sentou-se à mesa para ouvir
as "reivindicações" de controladores militares. Ninguém se
lembrou de convidar para o encontro algum oficial das Forças
Armadas a quem os operadores
são subordinados. Mas o ministro do Trabalho, o ex-presidente
da CUT Luiz Marinho, estava lá.
Em plena crise, o ministro da
Defesa ainda saiu a propugnar
pela transferência do controle do
fluxo de aeronaves ao comando
civil e criou uma comissão a fim
de estudar o assunto. Uma comissão que tem 60 dias de prazo
para divulgar suas conclusões -e
cujo objeto seria uma mudança
lenta, complexa e custosa no modelo de controle aéreo- só existe
para produzir mais relâmpagos
no meio da tempestade.
O comportamento populista
do ministro cuja missão é conter
a crise está contribuindo para
amplificá-la. Os controladores
de vôo entenderam que o governo federal cedeu à sua pressão
ilegal e que, por uma estreita
mentalidade sindicalista, acabou
solapando o comando das Forças
Armadas. Aí está o resultado: a
greve continua e vai ganhando
em desfaçatez.
O que o governo, a começar do
presidente da República, ainda
não conseguiu entender é que o
controle de vôo no Brasil está
majoritariamente a cargo das
Forças Armadas, instituição na
qual a lógica sindical não pode vigorar. A "operação-padrão" precisa ser debelada dentro dos códigos militares, sem brutalidade,
mas com dureza e punição a atitudes de insubordinação.
O que fica desse lamentável
episódio é uma amostra do que
seria o tráfego aéreo brasileiro se
estivesse sob comando civil. Um
meio de transporte fundamental
para um país da dimensão de um
continente viveria em constante
ameaça de paralisia, nas mãos de
um sindicato de servidores públicos. Trata-se de argumento
suficiente para justificar a manutenção do modelo atual, com
os ajustes necessários a tornar a
carreira de controlador de vôo
bem mais atrativa do que é hoje.
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