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O Grande Vazio
NUMA PROPOSTA que nem a
filosofia desconstrucionista ousou fazer, o curador da 28ª Bienal de São Paulo,
Ivo Mesquita, chamado às pressas para administrar a massa falida, sugere um modelo não-tradicional para o evento: uma exposição de arte sem obras de arte. Mesquita só não esclareceu se
pretende cobrar ingressos para
que os visitantes possam apreciar o Grande Vazio.
Sem recursos e tempo hábil
para organizar a versão 2008 da
segunda mais antiga Bienal do
mundo, pretende deixar totalmente vazio um dos andares do
pavilhão projetado por Oscar
Niemeyer. A idéia é "convidar a
um debate" sobre a instituição.
Um dos pisos será dedicado à
memória de eventos passados, e
o térreo estará aberto a performances e exibições de vídeo.
Mesquita, cujas credenciais
técnicas para ocupar o cargo são
inquestionáveis, não é o maior
nem o único culpado pelo desastre que se avizinha, mas faria melhor se não tentasse travestir o
fracasso de modernidade.
A esta altura, o melhor e mais
honesto seria suspender o evento do próximo ano e tomar as
medidas necessárias para profissionalizar a administração da
Fundação Bienal, a fim de que o
malogro não se repita.
Não há muita dúvida de que o
problema é de gestão. Num país
com generosas leis de renúncia
fiscal e estatais ávidas por patrocinar tudo o que se pareça com
arte, soa estranho falar em falta
de recursos para um evento com
o porte e o prestígio da Bienal de
São Paulo. Parece muito mais razoável acreditar que a organização não foi capaz de angariá-los.
É lamentável que o fiasco ocorra num momento em que o grande público se acostumava a visitar a Bienal e em que a produção
de arte e o mercado brasileiro se
fortalecem e ganham reconhecimento internacional.
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