São Paulo, sábado, 17 de novembro de 2007

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O Grande Vazio

NUMA PROPOSTA que nem a filosofia desconstrucionista ousou fazer, o curador da 28ª Bienal de São Paulo, Ivo Mesquita, chamado às pressas para administrar a massa falida, sugere um modelo não-tradicional para o evento: uma exposição de arte sem obras de arte. Mesquita só não esclareceu se pretende cobrar ingressos para que os visitantes possam apreciar o Grande Vazio.
Sem recursos e tempo hábil para organizar a versão 2008 da segunda mais antiga Bienal do mundo, pretende deixar totalmente vazio um dos andares do pavilhão projetado por Oscar Niemeyer. A idéia é "convidar a um debate" sobre a instituição. Um dos pisos será dedicado à memória de eventos passados, e o térreo estará aberto a performances e exibições de vídeo.
Mesquita, cujas credenciais técnicas para ocupar o cargo são inquestionáveis, não é o maior nem o único culpado pelo desastre que se avizinha, mas faria melhor se não tentasse travestir o fracasso de modernidade.
A esta altura, o melhor e mais honesto seria suspender o evento do próximo ano e tomar as medidas necessárias para profissionalizar a administração da Fundação Bienal, a fim de que o malogro não se repita.
Não há muita dúvida de que o problema é de gestão. Num país com generosas leis de renúncia fiscal e estatais ávidas por patrocinar tudo o que se pareça com arte, soa estranho falar em falta de recursos para um evento com o porte e o prestígio da Bienal de São Paulo. Parece muito mais razoável acreditar que a organização não foi capaz de angariá-los.
É lamentável que o fiasco ocorra num momento em que o grande público se acostumava a visitar a Bienal e em que a produção de arte e o mercado brasileiro se fortalecem e ganham reconhecimento internacional.


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