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RUY CASTRO
Salvação de Adriano
RIO DE JANEIRO - O centroavante Adriano, ex-Flamengo, ex-seleção brasileira e, se não se cuidar,
ex-Internazionale de Milão e ex-jogador de futebol, vem ao Brasil para
se tratar, aparentemente numa clínica para dependentes químicos. É
a coisa certa a fazer. Desde o começo, as pessoas relutam em tratar de
seu caso pelo único nome que lhe
cabe: alcoolismo.
Fosse Adriano cardíaco, diabético ou vítima de anomalia do vago
simpático, sua condição já teria sido
descrita por inúmeros médicos e o
jogador, encaminhado a tratamento por seu clube ou pela CBF. Mas o
alcoolismo traz um estigma difícil
de encarar: classificar alguém de alcoólatra é quase como chamá-lo de
safado ou sem-vergonha. Para "limpar" esse estigma, é preciso descobrir um "problema" que explique e
justifique o fato de o sujeito beber.
No caso de Adriano, as explicações são várias. Numa delas, ele
"pensava demais" nos seus problemas e tinha de "beber para dormir".
Em outra, a causa era "a morte do
pai". Em mais outra, bebera porque
era "dia de seu aniversário". E, claro, bebia também porque fora "barrado pelo treinador do Inter".
Os especialistas em dependência
sabem que isso é cascata. Todos os
problemas que o dependente aponta como "causas" são, na verdade,
conseqüências -ou pretextos para
beber mais. Ninguém bebe porque
tem problemas, mas tem problemas porque bebe. O mundo tem
100% de gente com problemas, mas
os alcoólatras são só 15% -os que
têm capacidade física para ingerir
muito álcool.
Não conheço Adriano, exceto como jogador, mas sei que não é um
safado ou um sem-vergonha. É apenas um homem doente. Sua única
saída é quebrar o círculo vicioso,
parar de beber e continuar sóbrio.
Se fizer isso, voltará a ser grande e a
fazer gols. Mas não poderá comemorá-los com champanhe.
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