|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
A descoberta do campo gigante de Tupi justifica alterações na lei do petróleo?
SIM
Mais vantagens para o país
LUIZ PINGUELLI ROSA
A RIGOR, foram duas as decisões
do governo sobre o petróleo
que causaram forte reação
emocional, sobretudo de consultores,
analistas e políticos da oposição. Os
investidores privados, estrangeiros
ou nacionais, foram mais racionais,
pois olham a Petrobras como uma
parceira detentora da tecnologia de
prospecção e produção de petróleo e
gás em águas profundas.
A primeira decisão foi retirar do
próximo leilão 41 blocos localizados
na área batizada de pré-sal, ao longo
do litoral que vai da região Sudeste
até parte da região Sul, onde se avalia
como provável a existência de petróleo e gás abaixo de uma camada de sal
no subsolo do fundo do mar.
Outra é a decisão de pôr em discussão o regime atual de concessão para
exploração desses hidrocarbonetos,
admitindo-se adotar o regime de partilha para essa nova área de alto potencial petrolífero, revelada pela confirmação do campo gigante de Tupi.
Há racionalidade em buscar mais
vantagens para o país quando a probabilidade de achar petróleo aumenta, pois o risco do investidor diminui e
a atratividade se torna maior, sendo
lógico que quem possui reservas procure obter maior benefício ou exercer
maior controle do óleo produzido.
Além do sistema de concessões,
adotado no Brasil, há o sistema contratual com partilha da produção e o
de prestação de serviços.
No sistema de concessões, o petróleo extraído pertence à empresa petrolífera e ela paga taxas, royalties,
participações especiais para o governo. É esse o sistema adotado em países desenvolvidos, como EUA, Canadá e Reino Unido, bem como em outros, como Argentina e Colômbia.
Já no sistema contratual, o petróleo produzido pela empresa petrolífera não lhe pertence, podendo, entretanto, ser partilhado entre ela e o país
que a contratou. No caso de o contrato ser de prestação de serviços, não há
a partilha, mas sim uma remuneração
do trabalho da empresa.
Muitos países em desenvolvimento
utilizam o sistema contratual em diferentes modalidades, entre eles Rússia, China, Índia e, na América do Sul,
a Venezuela. Portanto, não se trata de
invenção do Brasil nem é fora de uso.
Voltando à exclusão dos 41 blocos
do leilão, a forma repentina com que
isso foi determinado poderia ser evitada, pois o campo de Tupi já estava
em estudo há algum tempo. Porém,
não vejo no fato um grande problema.
A questão mais importante talvez
seja discutir o volume de petróleo estimado no campo de Tupi e na enorme área chamada subsal, "vis-à-vis" a
possibilidade de o Brasil se tornar um
importante exportador de petróleo.
Em Tupi, pode haver algo em torno
de 8 bilhões de barris de petróleo, o
que equivale a cerca de metade das reservas atuais do país. Essa quantia é
altamente provável. Ademais, estima-se que haja uma considerável
probabilidade de haver pelo menos
cinco vezes mais petróleo na área do
subsal, o que daria 40 bilhões de barris de petróleo. Essa quantia pode
chegar a 80 bilhões de barris, embora
com uma probabilidade menor.
Nesse patamar, de fato o Brasil pode se tornar um grande produtor e até
importante exportador de petróleo.
Porém, levará de cinco a seis anos
para iniciar a produção de Tupi e para
sabermos com mais precisão o real
volume de petróleo na área do subsal.
O petróleo de Tupi está a 6.000 m
de profundidade, em números redondos: abaixo de 2.000 m de lâmina de
água no mar, de 2.000 m de sedimentos e de 2.000 m de sal. A exploração
nessas condições é cara e exige investimentos importantes.
Enquanto isso, não se deve aumentar a exportação de petróleo e é melhor atuar com prudência, como no
caso da retirada dos 41 blocos do leilão. O Brasil consome perto de 2 milhões de barris por dia de petróleo, ou
seja, 730 milhões de barris por ano.
Supondo que, em alguns anos, o consumo chegue a 1,5 bilhão de barris por
ano, 40 bilhões de barris darão para
pouco mais de 26 anos, um tempo
confortável para o consumo do país,
mas não para ser grande exportador.
Finalmente, seria interessante que
parte da renda petroleira do pré-sal
seja voltada às fontes alternativas e à
eficiência energética, como forma de
mitigar o aquecimento global.
LUIZ PINGUELLI ROSA, 65, físico, é diretor da Coppe/
UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em
Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Foi presidente da Eletrobrás (2003-04).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Adriano Pires: É preciso lutar contra o retrocesso
Índice
|