São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2008

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Percalços no álcool

Indústria da cana investiu muito e agora atravessa dificuldades que, porém, não afetam atratividade do setor no longo prazo

A INCERTEZA econômica está criando dificuldades para todos os setores. No caso da atividade sucroalcooleira, alguns elementos específicos tornam a travessia dos próximos trimestres um pouco mais pedregosa.
Nos últimos três anos, muitos produtores de açúcar e de álcool endividaram-se com novos projetos, mas não contavam com a queda dos preços internacionais do açúcar, que se abateu sobre o setor quando as suas margens de lucro se estreitavam. O colapso financeiro global favoreceu um congelamento brusco dos planos de investimento.
Como esta Folha noticiou, pelo menos 47 projetos foram adiados: o número de novas usinas estimadas até 2015 caiu de 140 para 93. Além de ter perturbado o cenário futuro, a crise começa a atingir as operações do setor. O financiamento às exportações diminuiu, afetando um instrumento importante para a venda do açúcar, os ACCs (Antecipação de Contrato de Câmbio).
A interrupção de investimentos já traz conseqüências para a cadeia sucroalcooleira. Há pouco tempo, a indústria de máquinas não conseguia dar conta dos pedidos para as usinas -cada complexo leva até seis anos para ser erguido. Agora o parque industrial começa a dar sinais de ociosidade, com o cancelamento de encomendas.
O endividamento, aliado à mudança brusca no ambiente de negócios, já levou pelo menos uma grande usina, na região de Ribeirão Preto, a entrar com pedido de recuperação judicial. Representantes do setor especulam sobre um pacote de ajuda semelhante ao elaborado pelo governo para a construção civil.
Trata-se de uma situação delicada num vetor importante para a economia brasileira -e especialmente para São Paulo, responsável por 58% da produção nacional e líder do processo de expansão. O segmento sucroalcooleiro é um dos que mais investem no país, depois de petróleo, siderurgia e mineração.
O mercado doméstico de álcool cresce a taxas superiores a 10% ao ano -e absorve 80% da produção doméstica. O volume de álcool fabricado em 2008, de 26 bilhões de litros, cresceu 15% em relação a 2007.
Modular a capacidade de produção é o desafio que está colocado para os empresários. A queda brutal na cotação do petróleo, já abaixo de US$ 60 o barril, faz o álcool perder competitividade. A desvalorização do real, por outro lado, torna a exportação de açúcar mais rentável.
Seja como for, a conjuntura desfavorável precisa ser encarada com serenidade. A crise representa uma depressão cíclica para um setor que não perdeu sua atratividade estratégica. A demanda interna por álcool, em razão dos carros flex, continuará crescendo, embora a um ritmo inferior, no curto prazo, ao que vinha registrando.
O biocombustível brasileiro permanece uma grande promessa para o mercado internacional. A energia elétrica produzida a partir da queima do bagaço de cana, alternativa que apenas começa a deslanchar, também traz perspectivas alentadoras.


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