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Percalços no álcool
Indústria da cana investiu muito e agora atravessa dificuldades que, porém, não afetam atratividade do setor no longo prazo
A INCERTEZA econômica
está criando dificuldades para todos os setores. No caso da atividade sucroalcooleira, alguns elementos específicos tornam a travessia dos próximos trimestres
um pouco mais pedregosa.
Nos últimos três anos, muitos
produtores de açúcar e de álcool
endividaram-se com novos projetos, mas não contavam com a
queda dos preços internacionais
do açúcar, que se abateu sobre o
setor quando as suas margens de
lucro se estreitavam. O colapso
financeiro global favoreceu um
congelamento brusco dos planos
de investimento.
Como esta Folha noticiou, pelo menos 47 projetos foram adiados: o número de novas usinas
estimadas até 2015 caiu de 140
para 93. Além de ter perturbado
o cenário futuro, a crise começa
a atingir as operações do setor. O
financiamento às exportações
diminuiu, afetando um instrumento importante para a venda
do açúcar, os ACCs (Antecipação
de Contrato de Câmbio).
A interrupção de investimentos já traz conseqüências para a
cadeia sucroalcooleira. Há pouco tempo, a indústria de máquinas não conseguia dar conta dos
pedidos para as usinas -cada
complexo leva até seis anos para
ser erguido. Agora o parque industrial começa a dar sinais de
ociosidade, com o cancelamento
de encomendas.
O endividamento, aliado à mudança brusca no ambiente de negócios, já levou pelo menos uma
grande usina, na região de Ribeirão Preto, a entrar com pedido
de recuperação judicial. Representantes do setor especulam
sobre um pacote de ajuda semelhante ao elaborado pelo governo para a construção civil.
Trata-se de uma situação delicada num vetor importante para
a economia brasileira -e especialmente para São Paulo, responsável por 58% da produção
nacional e líder do processo de
expansão. O segmento sucroalcooleiro é um dos que mais investem no país, depois de petróleo, siderurgia e mineração.
O mercado doméstico de álcool cresce a taxas superiores a
10% ao ano -e absorve 80% da
produção doméstica. O volume
de álcool fabricado em 2008, de
26 bilhões de litros, cresceu 15%
em relação a 2007.
Modular a capacidade de produção é o desafio que está colocado para os empresários. A queda brutal na cotação do petróleo,
já abaixo de US$ 60 o barril, faz o
álcool perder competitividade. A
desvalorização do real, por outro
lado, torna a exportação de açúcar mais rentável.
Seja como for, a conjuntura
desfavorável precisa ser encarada com serenidade. A crise representa uma depressão cíclica
para um setor que não perdeu
sua atratividade estratégica. A
demanda interna por álcool, em
razão dos carros flex, continuará
crescendo, embora a um ritmo
inferior, no curto prazo, ao que
vinha registrando.
O biocombustível brasileiro
permanece uma grande promessa para o mercado internacional.
A energia elétrica produzida a
partir da queima do bagaço de
cana, alternativa que apenas começa a deslanchar, também traz
perspectivas alentadoras.
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