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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Erundina, 21 anos
SÃO PAULO - Faz 21 anos que Luiza Erundina foi eleita prefeita de
São Paulo. Sua vitória, em 15 de novembro de 1988, muito inusitada,
foi um marco histórico: "Mulher,
nordestina, petista", ela resume a
própria biografia tentando refletir
sobre o que significava na época.
A disputa se dava ainda -pela última vez- em turno único. Erundina obteve quase 30% dos votos, ultrapassando na reta final o favorito
Paulo Maluf, que se elegeria em 92.
Jânio Quadros não compareceu à
transmissão do próprio cargo.
Maria Luiza Fontenelle já havia
sido eleita em Fortaleza em 1985 (e
em 88 romperia com o PT). Mas São
Paulo era a maior cidade da América Latina, o berço de ouro do malufismo. Erundina recorda que assumiu a prefeitura tendo de enfrentar
"muita desconfiança e má vontade
por parte de empresários", convertidas em "boicote" em vários casos.
Mas foi alvo também da hostilidade
do próprio PT, que lhe cobrava pontos do programa. "Havia muitas demandas represadas e era difícil convencer o partido de que a gestão
municipal não iria dar conta delas".
Ainda assim, a ex-prefeita hoje
avalia que seu legado foi a redefinição das prioridades orçamentárias,
deixando de lado grandes obras viárias para enraizar a ação da prefeitura no social e na periferia: ônibus-bibliotecas, creches, mutirões -o
"erundinês" é a língua da organização comunitária e do esquentamento dos movimentos sociais.
Aquela, diz Erundina, "era uma
época dura, de inflação e desemprego, mas também politizada, de muita mobilização, diferente de hoje".
Erundina não poupa Lula pelo
atual engessamento da política:
"Ele não tem contribuído para fortalecer os movimentos sociais. Pelo
contrário, tirou o seu protagonismo
e cooptou o movimento sindical".
No país de Lula, diante de um governo que tem o PT a seus pés e os
empresários gargalhando, soa quase como gafe espanar o pó de uma
gestão sempre escanteada pelo partido. Inclusive em termos de conduta moral, o que vingou no PT não
foi o bom exemplo de Erundina.
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