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ANTONIO DELFIM NETTO
Amarrem os cintos!
O encontro do G20 em Seul,
na Coreia do Sul, foi uma reunião lítero-musical de qualidade duvidosa. O seu resultado, pífio. A "solução prática"
foi a cínica entrega da questão
aos cuidados do FMI.
No ano que vem, ele deve
apresentar um programa factível que distribua equanimente
os custos do ajuste. Em poucas
palavras e sem nhe-nhe-nhem: cada um que volte para
casa, trate de cuidar dos seus
interesses e ponha as barbas de molho.
Há uma grande dificuldade
em dar peso adequado ao problema dos EUA e às malfeitorias da China, o que provoca
ataques cruzados.
Os EUA meteram-se numa
grave crise e, desde 2007, destruíram 10 milhões de empregos. Para retornar à taxa de desemprego aceitável de 5%,
precisam reconstruí-los. Devido ao crescimento da população, para manter apenas o inaceitável nível atual de desemprego, de 9,6%, precisam criar
1,5 milhão de empregos por
ano, ou seja, 125 mil por mês.
Mesmo que haja uma rápida recuperação e a economia
possa absorver 600 mil empregos por mês (que é o dobro
da média dos anos 90!), serão
precisos dois anos antes que se volte ao nível de 2007.
Não se trata de um problema de liquidez, mas de confiança: as empresas não financeiras têm em caixa US$ 3 trilhões e não investem a não ser
em tecnologias poupadoras
de mão de obra. As instituições financeiras têm excesso
de reserva de US$ 1 trilhão e
não emprestam porque não há
tomadores (o nível de endividamento das famílias é da ordem de 100% do PIB).
O único tomador de recursos é o próprio Tesouro dos
EUA, cujo endividamento só
poderá ser sustentado com a
volta ao crescimento, que, por
sua vez, depende do investimento do setor privado e do
consumo das famílias.
Os EUA pagam agora o preço de sua miopia. Aumentaram o emprego nas finanças e
na habitação enquanto transferiam alegremente (graças à
valorização do dólar) para a
China suas fábricas e seus empregos industriais e para a Índia os do setor de serviços.
Com a explosão das duas
"bolhas", no setor financeiro e
no imobiliário, o emprego no
primeiro talvez nunca se recupere, e o do segundo demorará muito tempo. Uma coisa é
certa. Se a demanda interna
nos EUA não se recuperou,
porque o governo foi incapaz
de restabelecer a confiança no
circuito econômico interno, só
lhe resta a saída das exportações e a substituição do petróleo importado por biocombustíveis. Ele vai persegui-la com
a desvalorização do dólar.
Devemos "amarrar os cintos" e aguentar a competição
que vem por aí! Parece que
com a taxa de câmbio de R$
1,60 já podemos importar o
etanol de milho dos EUA...
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
contatodelfimnetto@terra.com.br
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