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CARLOS HEITOR CONY
Muito barulho por nada
RIO DE JANEIRO - O atual momento que atravessamos não deixa de ser
divertido. No período eleitoral, a tensão era muita, mas localizada, pois se
tratava de uma guerra aberta entre
os candidatos registrados, sabidos e
consabidos, que seriam eleitos ou não
em disputa pública e, esquematicamente, com chances iguais.
Mas, no momento atual, o da escolha dos ministros e dos mil e tantos
ocupantes da máquina administrativa, política e econômica do Estado,
há uma inflação de candidatos e
uma infinidade de postulantes, uns
desvairados, outros recônditos, como
a harmonia que Mario Cavaradossi
canta no primeiro ato de "Tosca".
Eu me divirto com o que leio e ouço.
Numa primeira análise da situação,
tenho a impressão de que todos são
candidatos a alguma coisa, grande
ou pequena, não importa, mas todos
estão convidados ao banquete do poder. Os escolhidos serão poucos, como
sempre, mas, enquanto o martelo
presidencial não bater, todas as especulações são possíveis.
O que há de candidato a isso ou
àquilo não é mole. Notícias são plantadas entre colunistas, pressões e
compressões nascem diariamente e,
entre mortos e feridos, todos têm a esperança de serem chamados a salvarem a lavoura, a pátria e o próprio
interesse.
Prova da seriedade do governo a
ser instalado daqui a dias é que ninguém até agora se lembrou do cronista sequer para contínuo de qualquer
repartição pública. Outro dia, num
almoço de confraternização, fiquei
sabendo que o único a não ser candidato a nada, a não ter sido secretamente convidado para ser isso ou
aquilo, era eu próprio.
Estou em contato mais ou menos
permanente com uns cinco candidatos a ministro da Cultura e a outros
tantos ministros ou presidentes de estatais e de fundações. Interessante é
que nenhum pede sigilo. Pelo contrário: pedem muito barulho por nada.
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