São Paulo, terça-feira, 17 de dezembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Muito barulho por nada

RIO DE JANEIRO - O atual momento que atravessamos não deixa de ser divertido. No período eleitoral, a tensão era muita, mas localizada, pois se tratava de uma guerra aberta entre os candidatos registrados, sabidos e consabidos, que seriam eleitos ou não em disputa pública e, esquematicamente, com chances iguais.
Mas, no momento atual, o da escolha dos ministros e dos mil e tantos ocupantes da máquina administrativa, política e econômica do Estado, há uma inflação de candidatos e uma infinidade de postulantes, uns desvairados, outros recônditos, como a harmonia que Mario Cavaradossi canta no primeiro ato de "Tosca".
Eu me divirto com o que leio e ouço. Numa primeira análise da situação, tenho a impressão de que todos são candidatos a alguma coisa, grande ou pequena, não importa, mas todos estão convidados ao banquete do poder. Os escolhidos serão poucos, como sempre, mas, enquanto o martelo presidencial não bater, todas as especulações são possíveis.
O que há de candidato a isso ou àquilo não é mole. Notícias são plantadas entre colunistas, pressões e compressões nascem diariamente e, entre mortos e feridos, todos têm a esperança de serem chamados a salvarem a lavoura, a pátria e o próprio interesse.
Prova da seriedade do governo a ser instalado daqui a dias é que ninguém até agora se lembrou do cronista sequer para contínuo de qualquer repartição pública. Outro dia, num almoço de confraternização, fiquei sabendo que o único a não ser candidato a nada, a não ter sido secretamente convidado para ser isso ou aquilo, era eu próprio.
Estou em contato mais ou menos permanente com uns cinco candidatos a ministro da Cultura e a outros tantos ministros ou presidentes de estatais e de fundações. Interessante é que nenhum pede sigilo. Pelo contrário: pedem muito barulho por nada.


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