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São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

O cheiro do dinheiro

RIO DE JANEIRO - Não sei até que ponto o presidente Lula é versado em clássicos nem mesmo se conhece do ultrapasssado latim aqueles ditados que advogados e subliteratos de todos os calibres gostam de citar.
Acredito piamente que ele deva ter ouvido falar do imperador Vespasiano, que mandou cobrar impostos dos mictórios de Roma. Seu filho foi reclamar: assim não, era demais, taxar secreções não ficava bem ao império que era o dono do mundo de então.
Vespasiano respondeu ao filho: "Pecunia non olet". Tradução adaptada: dinheiro não fede nem cheira. É evidente que Lula andou queimando as pestanas em cima dos clássicos, pois deu resposta aproximada às críticas que lhe fizeram durante a viagem aos países árabes, sobretudo à Líbia, governada há anos por um dos tiranos mais notórios do nosso tempo. Dinheiro não fede. Em nome de possíveis investimentos para elevar uma balança comercial que sempre balança e costuma cair, vale qualquer esforço para estreitar os laços de fraternidade com outros governos.
Durante este primeiro ano de governo, sempre elogiei as andanças do nosso presidente mundo afora. Ele continua sendo um animal exótico no panorama internacional, e é bom que o seja, pois isso rende simpatia e boa vontade para com o Brasil.
Não faz tanto tempo assim, o ditador da Líbia ameaçou destruir quase toda a Europa ocidental com mísseis soviéticos que abasteciam a Guerra Fria. Lembro que foi marcada data, hora e local para o primeiro míssil que estouraria no centro de Roma -a mesma Roma cujos mictórios públicos foram taxados por Vespasiano e aumentaram o orçamento do império.
Todos sabemos que dinheiro, ao contrário do que o imperador pensava, tem cheiro. Costuma cheirar maravilhosamente para quem tem e, por outros motivos, cheira maravilhosamente para quem não tem. A questão é saber que tipo de nariz se dispõe a cheirar o dinheiro. Em alguns casos, deve-se tampar o nariz.


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