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São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Ensino e pesquisa fora da universidade

RAUL CUTAIT

O Hospital Sírio Libanês, uma instituição de referência nacional e internacional para atendimento médico, inaugurou recentemente seu Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP).
A criação do IEP, ampliação de seu antigo Centro de Estudos e Pesquisas, foi decorrente da crença de que a contínua busca da excelência de atendimento passa por atividades agregadas de educação e de geração de conhecimentos. Essa é uma proposta ousada não apenas pelo conceito, pelo investimento e pelo momento do país, mas porque acreditamos que instituições não-universitárias podem ter configuração acadêmica e contribuir substancialmente para a melhoria da medicina e da ciência brasileiras.
O ensino no IEP está direcionado à pós-graduação "latu" e estrito "sensu", com programas de mestrado, residência médica, especialização e educação continuada, além de eventos médicos como congressos, simpósios, cursos e outras atividades educacionais. Com relação à pesquisa, foi criada uma estrutura que contempla a avaliação institucional dos projetos, com apoio de estatísticos e epidemiologistas para assegurar os adequados padrões de metodologia científica e consequente qualidade de investigações, tanto clínicas quanto básicas.


Continuamos com o ideário da benemerência, entendendo que nossa missão passa por ajudar os mais necessitados


Com doações, parcerias e investimentos próprios, serão disponibilizados aproximadamente 6.000 m2, que compreendem, além de área administrativa, centros de treinamento em cirurgia laparoscópica, artroscopia e microcirurgia, Centro de Simulação para Situações Críticas, Centro de Treinamento para Braquiterapia, laboratórios de informática, biblioteca, Setor de Documentação Científica e um pequeno centro de convenções, com auditório, salas de aula e sala de telemedicina.
Esse projeto só pôde ser concretizado devido a uma confluência de fatores no nosso hospital: a qualificação de seu corpo clínico, desde o início constituído em grande parte por médicos ligados à vida universitária e que criaram o paradigma da excelência de atendimento; a constante e frequentemente pioneira incorporação de tecnologia; o desejo de médicos e de outros profissionais de saúde de expandirem suas atividades ligadas ao ensino e à pesquisa dentro da própria instituição; a visão da entidade mantenedora e de seus dirigentes; e, finalmente, de capital importância, o fato de o Sírio Libanês ter sido criado e se desenvolvido como uma instituição filantrópica.
Apesar de dificuldades que nos vêm sendo impostas, continuamos com o ideário da benemerência, entendendo que nossa missão passa por ajudar os mais necessitados. Nossa visão é a de que instituições com nosso perfil podem colaborar de várias maneiras com o sistema público de saúde. Até passado recente, isso era feito por meio de atendimento gratuito a pacientes carentes.
Na atualidade, cabe a leitura de que a atividade filantrópica pode ser medida não apenas por um percentual de dias de internação pagos pelo SUS, como rege o decreto vigente que define filantropia na saúde, mas também por ações mais amplas, que incluem atendimento diagnóstico e terapêutico de alta complexidade, formação de recursos humanos e confecção e implantação de novos e mais eficazes modelos de gestão no setor público. Essas são áreas carentes no setor público e nas quais temos reconhecida competência e disponibilizamos nosso corpo clínico diferenciado, nosso parque tecnológico e, agora, o IEP.
Temos convicção de que é dessa forma que podemos contribuir efetivamente para a melhoria do sistema de saúde no nosso país. A sensibilidade que o Ministério da Saúde e outros órgãos governamentais têm demonstrado em relação a essa questão nos estimula a procurar esse caminho para exercermos nossa vocação filantrópica.

Raul Cutait, 53, cirurgião gastrenterologista, professor associado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da USP, é presidente do Conselho Médico e diretor-geral do Centro de Oncologia do Hospital Sírio Libanês. Foi secretário da Saúde do Município de São Paulo (gestão Paulo Maluf).


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