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CARLOS HEITOR CONY
Penicos e escarradeiras
RIO DE JANEIRO - Ignorante em economia, leigo em mercado e negócios,
nunca entendi por que uma lata de
sardinhas da mesma marca e tamanho custa tanto em determinada loja
e custa menos ou mais em outra. Já
me explicaram. Ou não entendi ou
esqueci.
A crise da Varig, por mais que tenha lido a respeito, para mim é mais
inacessível do que a teoria quântica e
mais confusa do que as explicações
de um técnico de futebol quando o time dele leva uma sova.
Na questão da aviação comercial,
uma coordenada é inegável: há procura, e procura cada vez maior e universal. O setor que produz penicos e
escarradeiras -se acaso ainda existe
este setor- deve atravessar dificuldades. Ninguém mais usa esses produtos. Criar abundante oferta de penicos e escarradeiras é jogar dinheiro
fora.
No caso do transporte aéreo, a procura tende a ser maior do que a oferta -única lei de mercado que até
um despreparado como eu compreende.
No entanto quase todas, se não todas as companhias áreas do mundo,
mesmo aquelas cujo maior acionista
é o Estado, estão de pires na mão. No
caso da Varig, que parece em estado
terminal, tem mais de metade de sua
frota no chão e as sucessivas administrações não a tiraram do sufoco.
Ela detém boas rotas, o que seria
garantia de operações rendosas. Com
administração honesta e inteligente,
deveria dar lucro suficiente para novos investimentos e ampliação dos
serviços. Nada disso aconteceu. Pelo
contrário, os acionistas não chegam a
um acordo e, em conseqüência, os
problemas de gestão se avolumam e
tornam-se insolúveis.
Haveria lógica nas dificuldades da
Varig se, de repente, todo mundo deixasse de andar de avião, preferisse o
carro de boi para ir do Rio a Manaus.
Não é o caso. Noventa por cento das
falências e concordatas são causadas
pela má gestão do negócio. Somente
dez por cento ficam por conta dos penicos e escarradeiras
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