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TENDÊNCIAS/DEBATES
Foi correta a convocação extraordinária
do Congresso Nacional?
SIM
Responsabilidade do Executivo
JOSÉ CARLOS ALELUIA
Durante a sessão de 15/12 da Câmara dos Deputados, o presidente
da Casa, Aldo Rebelo, leu em plenário
ato assinado por ele e pelo presidente do
Senado, Renan Calheiros, convocando
o Congresso Nacional para uma sessão
extraordinária entre 16 de dezembro e
14 de fevereiro. Creio que todos os deputados e senadores concordam que esse não é o melhor momento para uma
convocação extraordinária. Mas é preciso identificar, desde logo, as razões
que justificam a convocação e o que se
poderá produzir de positivo durante esses dois meses de trabalho.
É importante esclarecer que a necessidade dessa convocação do Congresso é
de exclusiva responsabilidade do Executivo. Há razões que respaldam essa
afirmação. A pauta do Congresso esteve
durante boa parte do ano bloqueada
por medidas provisórias. Lula editou 35
MPs ao longo do ano, uma média de
três por mês. Algumas das propostas,
como a que criava a Super-Receita e a
"MP do Bem", versavam sobre matérias
tão complexas que seu encaminhamento ao Congresso na forma de MPs foi
uma irresponsabilidade. Em razão dessa dificuldade, nenhuma das duas foi
apreciada pelo Congresso. O resultado
foi um "retrabalho" para o Legislativo.
Os dispositivos da "MP do Bem" tiveram que ser incluídos na MP 258, enquanto a Super-Receita tramita agora
na forma de um projeto de lei.
O governo tem se mostrado absolutamente incapaz de avançar na discussão
sobre o Orçamento. Findo o período da
sessão legislativa ordinária, nenhum
dos relatórios setoriais da Lei Orçamentária havia sido apreciado pela comissão mista. O início do exercício de 2006
sem a perspectiva de aprovação dessa
lei gera um grande inconveniente para a
execução dos gastos públicos, prejudicando, por exemplo, investimentos e
convênios com Estados e municípios.
Mas não é só a prática da edição abusiva de MPs e as dificuldades no encaminhamento do Orçamento que tornam o
governo responsável pela necessidade
de mais uma convocação extraordinária. A principal razão de manter em funcionamento o Congresso é garantir a
continuidade do trabalho de investigação das CPIs e do Conselho de Ética. Essas investigações têm sua origem precisamente no gigantesco esquema de corrupção instalado no governo Lula.
Interromper o funcionamento do Legislativo nesse momento é temerário.
Há risco de que a interrupção do trabalho de apuração permita que evidências
importantes sejam comprometidas.
Conforme recentemente afirmou o relator da CPMI dos Correios, deputado
Osmar Serraglio, alguns dos envolvidos
no esquema de corrupção estariam forjando evidências e desaparecendo com
provas dos crimes praticados.
Um ponto positivo que pode resultar
da convocação extraordinária é a aprovação da proposta de emenda constitucional que cria o Fundeb (o novo fundo
para financiar a educação básica).
O Fundeb aprofunda a política iniciada pelo Fundef, criado pelo governo
FHC. O Fundef já oferecia financiamento ao ensino fundamental. Com a aprovação do Fundeb, também a educação
infantil -em especial as creches- e o
ensino médio contarão com uma política própria de financiamento, com regras claras e competências definidas para União, Estados e municípios.
Por fim, a convocação permitirá sepultar uma questão que constrange os
parlamentares. Por sugestão de Aldo
Rebelo, estará na pauta da convocação
proposta que visa reduzir o período de
recesso parlamentar. Atualmente, o recesso ocorre durante todo o mês de julho e entre 16 de dezembro e 14 de fevereiro, totalizando três meses por ano.
Outra importante proposta que deve
ser apreciada durante essa convocação é
a reforma política. Tramita na Câmara
um projeto de autoria do senador Jorge
Bornhausen que propõe uma série de
alterações na lei que rege as eleições, entre as quais o estabelecimento de limites
mais rígidos para a propaganda eleitoral, a proibição da distribuição de camisetas e brindes eleitorais, um maior rigor na prestação de contas das campanhas e a criminalização do caixa dois.
Em resumo, cria condições para um
processo eleitoral mais sério e transparente, coibindo práticas que configuram abuso do poder econômico.
Se há alguma perplexidade na convocação extraordinária do Congresso Nacional, é quanto ao fato de ela não ter sido levada a cabo pelo próprio presidente da República. Luiz Inácio Lula da Silva é o grande responsável pela necessidade de convocação do Congresso.
José Carlos Aleluia, 58, deputado federal pelo
PFL-BA, é o líder da oposição na Câmara.
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