São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

O ovo da serpente, de novo

SÃO PAULO - Passou meio batido, no meio do noticiário sobre vistos e outras restrições norte-americanas ao ingresso de estrangeiros, a informação de Cíntia Cardoso, desta Folha, a respeito de projeto, em estudo no Senado dos EUA, que prevê reformas no sistema de regulação dos departamentos de estudos internacionais das universidades.
Suspeita-se de que se trate de uma tentativa de impor às investigações acadêmicas o zelo fundamentalista que caracteriza a gestão George Walker Bush.
Se levada adiante a tentativa de censura, perdem não apenas os Estados Unidos mas, principalmente, os países que são pesquisados por acadêmicos dos EUA.
Uma das belezas da democracia norte-americana é exatamente a formidável capacidade de investigar, de apurar e de denunciar, quando é o caso, pecados e até crimes praticados pelos próprios EUA.
Tome-se o caso do Chile. Duvido que haja documentação mais abundante e mais sólida sobre a participação de Washington no golpe que derrubou o governo constitucional de Salvador Allende (1970/73) e sobre os crimes depois praticados do que no próprio Congresso norte-americano. Para não falar das academias.
Agora mesmo, acabam de sair dois estudos acadêmicos (do Council on Foreign Relations e do Carnegie Endowment for International Peace) que desmontam certezas oficiais sobre, respectivamente, a política para os países andinos (em especial a Colômbia) e sobre as vantagens do Nafta para o México (o que põe nota de cautela sobre qualquer acordo de livre comércio).
Monitorar pesquisas é fazer o inverso do que seria correto: o problema para os Estados Unidos não é que as pesquisas tenham um eventual viés esquerdista (ou muçulmano ou o que seja), mas o fato de, muitas vezes, Washington não observar nos outros países as regras democráticas que fizeram a grandeza do país.


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