São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 2005

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URIBE X CHÁVEZ

Na crise diplomática entre a Colômbia e a Venezuela, é difícil não dar razão ao presidente venezuelano, Hugo Chávez. É evidente que a Colômbia extrapolou o direito internacional bem como as regras da boa vizinhança ao pagar para que um membro das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que se encontrava em território venezuelano, fosse seqüestrado e entregue como prisioneiro do outro lado da fronteira.
Nesse episódio, o governo do presidente Álvaro Uribe adotou o pior estilo da chamada Doutrina Bush, que prevê ações preventivas unilaterais com vistas a combater o terror.
Para agravar um pouco mais o quadro, o detido, Rodrigo Granda, era apenas um porta-voz das Farc. Existem membros da organização de estatuto hierárquico semelhante atuando em diversos países da América Latina, inclusive o Brasil. Isso de modo nenhum deve servir de pretexto para que o governo colombiano se sinta no direito de invadir países amigos ou subornar autoridades estrangeiras para que lhes entreguem pessoas procuradas pela Justiça local.
Em favor de Uribe, há que se reconhecer que o presidente Chávez mantém uma atitude ambígua em relação às Farc, preferindo abrigar e acobertar criminosos a combatê-los. Fá-lo para opor-se aos EUA, que fornecem farta ajuda monetária e militar para que a Colômbia combata as Farc e os traficantes que financiam o grupo -a essa altura voltado apenas para o banditismo e o terror. Combater o terrorismo exige ações não apenas diplomáticas mas também nas frentes militar e de inteligência. Isso não basta contudo para justificar a ingerência da Colômbia.
Lamentavelmente, a disputa surge quando as complicadas relações Bogotá-Caracas (a Colômbia apoiou a tentativa de golpe contra Chávez) passavam por um período de distensão. A ação de Uribe infelizmente pôs a perder esse bom momento e ajudou a criar um novo e desnecessário foco de atrito no continente.


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