São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

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ANTONIO DELFIM NETTO

Há razão para esperança

É cada vez mais evidente que o caminho mais curto e mais eficiente para o Brasil escapar da armadilha construída pela vulnerabilidade externa e interna é a rápida expansão das exportações. O ano de 2003 mostrou isso de forma definitiva. Surpreendendo o próprio governo e todos os "analistas" que no início do ano supunham uma exportação de US$ 64 bilhões, fechamos o ano com US$ 72,1 bilhões. Isso apenas mostra que a exportação de 2004 não está feita nos US$ 80 bilhões estimados pelo governo: ela está por fazer-se mais e melhor, dependendo do suporte que aquele lhe der em crédito, logística, eliminação dos entraves burocráticos, efetiva eliminação da carga tributária etc.
O presidente Lula deveria dar ao ilustre ministro Furlan a missão (e os meios!) para atingir US$ 85 bilhões em exportações. Isso não apenas aceleraria o desenvolvimento como aumentaria o emprego, coisa mais difícil de ser feita por outros meios. Uma regra prática sugere que, a cada US$ 70 mil exportados, um emprego é criado, o que significaria qualquer coisa como 170 mil empregos. Não se trata de voluntarismo, mas de experimentalismo. Nenhum burocrata achava possível exportar US$ 73 bilhões em 2003. Por que achariam que podemos exportar US$ 85 bilhões em 2004? Mas será isso possível? Só saberemos quando o setor privado, estimulado por bons lucros, tomar o risco de tentar!
A tabela abaixo mostra a evolução de dois indicadores críticos da "vulnerabilidade" externa: a relação dívida externa/exportação e (amortizações + juros)/exportação.

 

Em relação ao primeiro indicador, deveremos estar próximos da normalidade já no fim de 2004. Quanto ao segundo, sua redução se auto-alimentará de sua própria baixa. Deverá ser complementado pela continuação do inteligente trabalho do Tesouro de renovação mais longa das dívidas vincendas e pelos "spreads" menores que sua própria baixa vai induzir.
A relação dívida líquida do setor público/PIB também tem tudo para melhorar em 2004 se rejeitarmos a demagogia que se faz sobre o "superávit primário". Tudo vai na direção certa: o PIB (até por efeito aritmético) vai crescer, a taxa de câmbio real não deve sofrer grande variação, a porcentagem da dívida referida a dólar deve cair e a taxa de juro real cairá necessariamente. Não é excesso de otimismo supor que, pela primeira vez, a relação crucial DLSP/PIB indique com clareza que está no caminho de uma redução monotônica. Isso reduzirá ainda mais o "spread" e a taxa de juro da dívida interna e externa, acendendo uma luz no fim do túnel da dependência construída ao longo dos últimos oito anos.
Mas tudo depende das exportações...como já era evidente em 1998...


Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.

dep.delfimnetto@camara.gov.br


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