São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2007

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Descarbonizando o Carnaval da Bahia

EDUARDO ATHAYDE


Cada trio elétrico precisa plantar cerca de cem árvores para neutralizar o carbono emitido no circuito da folia. O exemplo serve para todos


REGISTRADO no livro dos recordes, "Guinness Book", como a maior festa popular de rua do planeta, o Carnaval da Bahia, ponto de encontro da mídia internacional, envia sinais de descarbonização para o mundo. Quem tem visibilidade e responsabilidade internacional está dando a sua contribuição para minorar a crise climática que afeta o planeta. Cada trio elétrico precisa plantar cerca de cem árvores para neutralizar o carbono emitido no circuito da folia.
A bromélia barba-de-velho ("Tillandsia usneoides"), que retém partículas de poluentes maléficos à saúde humana, está sendo usada pela Secretaria de Meio Ambiente no biomonitoramento do ar de Salvador. O exemplo da maior festa popular do planeta serve para todos. Trios elétricos, hotéis, aerolinhas, telefonia móvel e cervejarias fazem inventários para neutralizar suas emissões. A partir de agora, festivais, congressos, seminários e mesmo a Fórmula 1 terão de ser descarbonizados.
No ultimo meio século, a população urbana mundial foi de 732 milhões, em 1950, para mais de 3,2 bilhões, em 2006. Embora as cidades cubram só 0,4% da superfície terrestre, elas são a maior fonte de emissões mundiais de carbono, o que as torna cruciais para amenizar a crise climática. A contabilização dos prejuízos das mudanças climáticas empurra o mundo para a era da descarbonização.
O deslocamento urbano de veículos particulares consome quase o dobro da energia do transporte público, 3,7 vezes mais que o sistema metroviário e 6,6 vezes mais que o transporte ferroviário elétrico. Cada carro pequeno emite, em média, dez toneladas de carbono/ano. O aumento das emissões de CO2 pelo transporte rodoviário e aéreo leva a Europa (que envia sua imprensa para o Carnaval da Bahia) a abraçar a "economia de baixo carbono". A neutralização do carbono está na ordem do dia na comissão européia que analisa restrições compulsórias para limitar a emissão em 120 gramas de CO2/km até 2012.
Prefeito reeleito de Nova York, o empresário milionário Michael Bloomberg, sabendo que parte das emissões de carbono resulta das atividades domésticas e que famílias emitem, em média, 45 toneladas de carbono/ano, anunciou planos para sua cidade ocupar a liderança na redução de emissão de gases de efeito estufa como uma das formas de melhorar a economia e atrair turistas.
A Bahia, de olho no fluxo de turistas, está oferecendo para Bloomberg trios elétricos descarbonizados, únicos no mundo, para ajudar nos seus objetivos.
Corporações sediadas no mundo industrializado aumentam as suas receitas com projetos de redução de emissões: "Carbon down, profits up". Apenas quatro delas, a Norske Canada, Bayer, Dupont e BT (algumas enviando executivos para o Carnaval baiano), reduziram a emissão em 60%, economizando US$ 4 bilhões.
Os quatro cantos do mundo estão sintonizados em ações para balanço positivo de carbono. A cidade de Rizhao instalou aquecedores solares de água em 99% dos domicílios e a maioria dos semáforos e iluminação pública é alimentada por células solares, restringindo as emissões de carbono e poluição urbanas. Com a iniciativa empregou, 250 mil chineses. Num mundo globalizado e conectado pela internet, o exemplo de um festival popular de grande massa atrai a atenção dos novos ricos mandarins.
A cidade de Chicago, nos EUA, com representantes no Carnaval na Bahia, negociou com uma concessionária pública o fornecimento de 20% do consumo de energia da cidade por fontes renováveis, até 2010, e pretende se tornar "a cidade mais ambientalista da América". Outras 300 cidades americanas aderiram ao Acordo de Proteção ao Clima realizado por governos municipais em prol de uma política climática nacional.
Os baianos, que, segundo comprovada teoria, são os que mais sabem trabalhar no Brasil, estão propondo a criação do primeiro Carnaval "carbon-free" em São Francisco.
De olho na nova lei californiana, que obriga grandes indústrias a reduzir em até 25% suas emissões de gases poluentes até 2020, e na nova atitude americana, que poderá elevar o mercado mundial de créditos de carbono para patamares de 150 bilhões de dólares até 2010, baianos montam parcerias entre os Estados da Bahia e da Califórnia na indústria do entretenimento descarbonizado.
O futuro do planeta será definido pela rapidez com que conseguirmos descarbonizar a economia nos próximos anos. Daqui para a frente, a nova ordem é neutralizar o carbono, gerando lucro social, econômico e ecológico integrado. "Lucru", do latim, significa ganho, proveito, utilidade e vantagem, inclusive econômica. Descarbonização dá lucru.

EDUARDO ATHAYDE , administrador e pesquisador, é diretor do WWI (Worldwatch Institute no Brasil).
www.wwiuma.org.br


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