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ALBA ZALUAR
Moralismo
fora de lugar
DUAS NOTÍCIAS RECENTES
exigem mais reflexão sobre
as práticas da Polícia Militar no Brasil. Uma, a premiação
máxima do filme "Tropa de Elite"
no Festival de Berlim. Não foi apenas um prêmio à forma, mas ao
conteúdo também. O Urso de Ouro
diz que grande parte do mundo politizado espera que os problemas
denunciados no filme sejam mais
discutidos e finalmente superados.
A outra, notícia pequena mas
muito reveladora dos problemas a
enfrentar. Um alto oficial da Polícia Militar justificou a proibição de
bailes funk afirmando que era preciso acabar com as orgias dos traficantes. Espera aí, orgia é crime?
Não, é moralismo.
Bailes funk incomodam os vizinhos, favelados ou não, pelo tremendo barulho que produzem em
insuportáveis decibéis.
São também o cenário de sedução e corrupção de menores, assim
como da venda de drogas ilegais e
da promoção de demonstrações
explícitas do poder masculino abusivo, acompanhado do uso de armas. Tudo isso é crime especificado no Código Penal.
Por que apontar para algo que foge da alçada policial? Dizem os historiadores da polícia no Brasil que
o papel desta como prestadora de
serviços aos homens livres a fazia
uma espécie de prefeitura da cidade. Daí para meter-se em questões
morais que não lhe diziam respeito
foi um pequeno passo. Até hoje o
juramento inicial de "proteger, assistir e socorrer" o cidadão pode vir
a significar colocar-se acima do
bem e do mal, não exposto a leis e
limites impostos aos comuns mortais, mas decidir simultaneamente
sobre os seus costumes morais.
O policial passa a julgar severamente as parcelas mais vulneráveis
da população e a acreditar que poderia desenvolver melhor sua atividade se não tivesse que se limitar
pela lei vigente. Está aberto o caminho para o uso excessivo e descontrolado da força contra os mais pobres, assim como o da corrupção.
Mas a polícia não foi inventada
para impor uma moralidade tradicional ou conservadora a toda população de um Estado-Nação. Foi
para garantir a segurança dentro
dos preceitos da lei. Reza a nossa
Constituição que esta deve promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade
e quaisquer outras formas de discriminação.
No entanto, ainda a obediência à
hierarquia e a conformidade aos rituais internos à corporação militar
são mais importantes do que o controle da atividade policial. Pior, que
a sociedade assim o deseja. Investigações falhas, arquivadas ou desviadas não punem os policiais que
empregam violência desnecessária
no trato dos cidadãos pobres. Até
quando?
ALBA ZALUAR escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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