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CLÓVIS ROSSI
Nem fingir eles fingem
SÃO PAULO - Confesso que não
me emocionou nem um pouquinho
a afirmação do senador Jarbas Vasconcelos de que "boa parte" de seu
partido, o PMDB, gosta mesmo é de
corrupção.
Afinal, não conheço um só jornalista que tenha escrito ao menos
duas linhas sobre política nos últimos 20 e tantos anos que não tenha,
uma vez na vida, dito em voz baixa a
mesma coisa que Jarbas grita. Tampouco conheço um só leitor -que
não seja filiado a partido político-
que não pense a mesma coisa sobre
o PMDB e, de quebra, sobre todos
os demais partidos, grandes e médios -ou até alguns pequenos.
Tampouco é novidade. Um certo
Luiz Inácio Lula da Silva, antes de
ser presidente, já havia dito que o
Congresso é formado por uns "300
picaretas". Como o PMDB sempre
foi maioria relativa no Congresso, é
inescapável supor que Lula acha
(ou achava) que "boa parte" do
PMDB é formada por "picaretas".
O fato de ter-se unido a eles, uma
vez na Presidência, fala mal de Lula,
mas não absolve o PMDB.
Por tudo isso, não havia uma só
razão para prestar muita atenção à
fala de Jarbas.
Mas me emocionou, sim, pelas
piores razões, a reação do PMDB,
esse assobiar e olhar para o lado, como se o senador estivesse falando
de outra agrupação. "Não queremos dar relevo a algo que não tem
especificidade", reagiu, por exemplo, Michel Temer, ainda presidente do PMDB.
Como não tem? Dizer que "boa
parte" do partido gosta de corrupção não é suficientemente específico para iniciar vigorosa ação exigindo nomes? Ou para expulsar o senador por leviandade?
Em outros tempos, o PMDB ou
qualquer partido urraria de indignação, fingida ou real. Cada peemedebista esfregaria na cara do denunciante a "ilibada" reputação que
diria possuir. Hoje, ninguém mais
nem finge indignação, e "ilibada reputação" caiu em desuso.
crossi@uol.com.br
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