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RUY CASTRO
O ovo na legalidade
RIO DE JANEIRO - É a mais completa reabilitação de um suposto
criminoso na história da humanidade. O ovo -o querido ovo, o fruto
da galinha (às vezes, com participação do galo como astro convidado),
objeto cujo design é uma maravilha
de projeto e acabamento-, volta ao
círculo social depois de décadas como inimigo público nº 1.
Durante quase toda a segunda
metade do século 20, médicos e
cientistas dedicaram-se a acusar o
ovo dos piores crimes contra o coração e a responsabilizá-lo pela elevação dos níveis de colesterol a placares de basquete americano.
Quem fosse cardíaco, não chegasse
perto; quem não fosse, idem, para
prevenir. Às galinhas só restava
submeter-se ao holocausto reservado à sua espécie e ao opróbrio
para o seu produto.
Pois, desde algum tempo, depois
de pesquisas mais sérias e profundas, esses mesmos médicos e cientistas começaram a emitir sinais de
que talvez tivessem sido injustos
com o ovo. E, na semana passada,
saiu o relatório definitivo da Universidade de Surrey, na Inglaterra:
o ovo não faz o menor mal à saúde
-ao contrário, é riquíssimo em nutrientes- e pode ser comido na legalidade e em qualquer quantidade.
Só faltam dar-lhe a medalha de alimento do ano.
Ótimo, ótimo. Mas cabe a pergunta: E nós, que sempre fomos
loucos por ovos -fritos, na manteiga, com ou sem bacon- e tivemos
de nos privar deles por décadas, como ficamos? Eu, por exemplo: a
uma média de três por semana,
quantos ovos não deixei de comer
nos últimos 30 anos? Se medido em
graus de deleite, prazer ou orgasmos do paladar, a quanto não montará esse prejuízo?
Assim como certos países e regimes pediram desculpas póstumas
às populações que dizimaram, a comunidade científica também nos
deve um pedido de perdão -que
não sei se concederei.
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