São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Desafios estratégicos brasileiros EURICO DE LIMA FIGUEIREDO
Paroquial. É esse o termo que descreve da melhor forma a posição da classe política e da opinião pública em relação às políticas externa e de defesa do Brasil. Se, durante a campanha presidencial, o tema pouco frequentou a agenda dos candidatos, a situação não mudou em relação ao assunto quanto ao novo governo que se instalou em Brasília. Tudo tem se passado como se o país ainda ocupasse os subúrbios da periferia e não ostentasse a posição, já agora, de oitava economia do mundo, celeremente caminhando para assumir a posição de quinta potência mundial. O provincianismo ganha feição paradoxal. No plano internacional, as imagens preconcebidas em relação ao Brasil -durante tanto tempo retratado como o país do Carnaval, do futebol e do café- se desfazem. No plano interno, contudo, prevalece o desdém em relação às questões estratégicas que incidem sobre o futuro da nação. O governo Lula lançou em dezembro de 2008 a estratégia nacional de defesa. Foi o primeiro documento dessa espécie em toda a história republicana brasileira. Nele, dois aspectos, em latência, devem ser realçados, entre tantos igualmente importantes. Primeiro: ele se dirige aos brasileiros, e não a qualquer outro país ou comunidade de países. Pretende adequar o potencial econômico do Brasil ao seu perfil político-estratégico. Segundo: entende que, em situações de conflitos de interesses, o principal bem dos Estados foi -e será, sempre!- a preservação de sua própria existência. Não há lugar para o discurso da arrogância, por certo, tampouco para a mera submissão. A nação carece de debate sério sobre o tema. Não dá mais para se comportar como se fôssemos uma potência de segunda categoria. Cabe à primeira mandatária função essencial, assistida pelos ministros da área, o da Defesa e o dos Assuntos Estratégicos. A participação do Congresso não é menos importante. Um sistema de defesa democrático e poderoso não pode, contudo, se amparar apenas nesses atores. Deve envolver seriamente a comunidade científica. É mister a participação militar, porquanto são as Forças Armadas que operam os dispositivos de defesa e segurança no contexto global. O envolvimento das empresas estratégicas nacionais é vital, cabendo à Petrobras, entre outras, papel de destaque. Os sindicatos não podem ficar à margem. A mídia tem, nos últimos tempos, aberto espaços; é preciso ampliá-los. Defesa nacional e segurança internacional dizem respeito aos destinos da sociedade como um todo. O Brasil aspira integrar o Conselho de Segurança da ONU. Os cinco países permanentes do Conselho (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia) detêm os mais dispendiosos e críveis sistemas de defesa no planeta. Guardam a perspectiva adequada. Cosmopolita. EURICO DE LIMA FIGUEIREDO é professor titular do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF). Foi presidente da Associação Brasileira de Estudos da Defesa (Abed). Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Roberto Muylaert: Questão de bom senso Próximo Texto: Painel do Leitor Índice | Comunicar Erros |
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