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MARCOS NOBRE
Uma guerra natural
A INVASÃO dos EUA ao Iraque completa agora cinco
anos. A guerra no Afeganistão já tem mais de seis.
A proposta de orçamento militar
do governo Bush para 2009 é de
US$ 515 bilhões, um recorde na seqüência de aumentos reais de seus
dois mandatos. Isso sem contar os
créditos suplementares já aprovados para sustentar as duas guerras,
um valor superior ao próprio orçamento proposto. Descontada a inflação, é um orçamento anual próximo do que foi gasto durante a Segunda Guerra Mundial.
A política social mais agressiva
proposta pelas candidaturas democratas diz respeito à universalização da saúde. Custaria a cada ano
entre US$ 50/65 bilhões (Barack
Obama) e US$ 110 bilhões (Hillary
Clinton). Para proteger os proprietários mais pobres da crise imobiliária, Hillary Clinton propõe um
fundo de crédito de US$ 1 bilhão.
Obama prevê US$ 10 bilhões.
Por aí já se vê o quanto essas duas
guerras são decisivas também do
ponto de vista do Orçamento dos
EUA. Só que não são mais um tema
central da campanha presidencial.
As duas candidaturas democratas prometeram muito vagamente
"trazer as tropas de volta". Não falam em prazos nem em números. O
indicado republicano fala de sucesso e de vitória.
O conservadorismo dos anos
Bush pode ter sido neutralizado no
momento. Mas os efeitos de seu governo serão sentidos por muito
tempo ainda.
E uma das armadilhas é justamente a da necessidade de orçamentos militares crescentes. A invenção da chamada guerra preventiva vem junto com ocupações longas e custosas.
O grande êxito de Bush foi o de
ter conseguido tornar naturais as
guerras que promoveu. Lê-se todos
os dias sobre bombas e mortes no
Iraque e no Afeganistão como se lê
sobre um terremoto em um lugar
distante e desconhecido.
O complexo militar dos EUA
aprendeu bem a lição do Vietnã.
Com um exército profissionalizado e estratégias para minimizar ao
máximo as baixas, não é mais só o
caso de entrar para vencer militarmente. Hoje, a superioridade tecnológica garante isso com relativa
facilidade.
O segredo é entrar em uma guerra para não sair. Nessa lógica, é fundamental manter frentes militares
permanentes. Além de deixarem
patente para o resto do mundo o
próprio poderio, os Estados Unidos garantem com isso "campos de
teste e de treinamento" para tropas
e armamentos.
Bush precisou do cataclismo do
11 de Setembro para instituir essa
nova estratégia bélica. Vai ser preciso mais do que uma eleição presidencial nos EUA para conseguir
desmontar a idéia de que guerras
são coisas naturais.
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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