São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Dilma fala

A presidente Dilma Rousseff escolheu com cuidado o momento de conceder sua primeira entrevista a um jornal brasileiro.
Premida pelo volume crescente de indicações de uma propalada "fritura" do ministro Guido Mantega (Fazenda) e pela renitente desconfiança do mercado financeiro quanto à eficácia da estratégia anti-inflacionária do Banco Central, a presidente fez ao diário "Valor Econômico" uma profissão de fé no combate à alta dos preços. Nem por isso conseguiu desfazer a aura de ambiguidade que paira sobre a política econômica.
Por um lado, manifestou apoio enfático a Mantega e à tese de que é possível crescer a 4,5% ou 5% neste ano sem perder de vista o centro da meta de inflação (4,5%). Ora, até o BC já sinalizou que mais provável é aproximar-se do limite superior de 6,5%.
Dilma nega que os preços subam por pressão da demanda sobre a capacidade produtiva, como sustentam muitos analistas financeiros. A presidente qualifica as altas como fenômenos setoriais ou sazonais, fadados a esvair-se.
Por outro lado, repetiu, não sem habilidade, a prédica sobre a independência do Banco Central. Aquilo que, em outros tempos, já equivaleu a manifestar a crença na ortodoxia monetarista, ganha hoje sentido mais nuançado. Tendo a atual direção do BC buscado ferramentas alternativas à elevação dos juros para conter a inflação, como a restrição ao crédito, o sermão se converte em crítica ao fundamentalismo do mercado.
Ficou claro, porém, que a presidente não porá a mão no fogo por Alexandre Tombini, presidente do BC. Para esquivar-se de pergunta sobre a possível tolerância do BC com a inflação, Dilma recusou a oposição entre "pombas" e "falcões" com auxílio de uma frase de efeito: "E eu sou arara".
Foi com alguma estridência, de resto, que a entrevistada defendeu gastos sociais -como os sucessivos aumentos do salário mínimo em termos reais- mais contraditórios com a professada austeridade fiscal. Tampouco vê incoerência entre o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento e a cessão de R$ 55 bilhões para empréstimos subsidiados do BNDES.
É evidente o contraste com os pronunciamentos superficiais do presidente anterior, Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma se esforça por responder de maneira decidida às perguntas e por mostrar domínio sobre temas econômicos. Ainda que nem sempre tenha sucesso em clarificar as políticas de seu governo, cabe saudar a disposição para enfrentar o questionamento da imprensa e instá-la a tornar mais frequentes as entrevistas.


Texto Anterior: Editoriais: Operação simpatia
Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Inflação na cabeça
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.