São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2011

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JOSÉ SARNEY

O Japão e seu labirinto

Foi de Lovelock a expressão de que "a Terra" é um ser vivo. Em sua história de bilhões de anos, milhões de vezes ela deu sinal de que ainda não morreu solitária, com um sol apagado.
Muitas das cidades descobertas pelos arqueólogos mostram ter sido vítimas de terremotos. Somente depois que o homem dominou a escrita esses episódios puderam ser documentados.
Por muitas catástrofes imponderáveis passou nosso planeta. A maior delas foi o meteoro do golfo do México, que acabou com 90% das espécies e mergulhou a Terra numa escuridão profunda.
Antes da escrita, na tradição oral, só restou o dilúvio, que parece ser comum a todas as antigas civilizações. Até o Colosso de Rodes foi destruído por um terremoto.
Vejo uma grande especulação sobre a atual fase como se fossem "sinal dos tempos" tantos terremotos e tsunamis juntos. É claro que só agora, com as novas tecnologias da informação, podemos saber instantaneamente o que ocorre em qualquer lugar.
As catástrofes são "globalizadas" e as vivemos dentro de casa, com um simples clic.
Há muito tempo, li um livro sobre a vida cotidiana em Lisboa no tempo do terremoto de 1755. O remédio a que se recorria era a prática de orações, porque tal catástrofe tinha sido feita por Deus para punir os pecados. E eram missas e mais missas em todos os lugares, procissões implorando ao Criador que os perdoassem.
Recomendavam as confissões -hoje, um padre de Nova York oferece confissão pelo celular, mediante o pagamento de um dólar e o custo da chamada. O rei dom José, debaixo de uma tenda em Belém, sem querer regressar ao palácio, mandou chamar o futuro marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo, que lhe deu a solução para acabar com os saques e os incêndios em Lisboa com a famosa frase: "Enterrar os mortos e cuidar dos vivos".
Por mais que tenhamos descoberto tudo sobre a natureza, é muito maior o acervo do que falta descobrir. O sismo do Japão teve consequências planetárias. O eixo da Terra deslocou-se em 16,5 cm e acelerou o movimento de rotação. O Japão tornou-se mais largo do que era e o dia diminuiu 1,8 milionésimo de segundo.
A Terra ainda se contorce num processo de acomodação dos seus bilhões de anos. As usinas atômicas de Fukushima foram projetadas como invulneráveis. Os fatos mostram que a energia nuclear é de controle impossível.
Se com as usinas invulneráveis acontecem esses imprevistos, o que não pensar sobre as milhares de ogivas nucleares. Revisão de todas as tecnologias de produção de energia nuclear e eliminar toda e qualquer arma nuclear da face da Terra, eis nossa tarefa. Só assim, podemos dormir tranquilos.

JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.

jose-sarney@uol.com.br


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