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Tim Maia ressuscita na Globo
LUIZ CAVERSAN
Rio de Janeiro - O cantor Tim Maia
ressuscitou. E ressuscitou no dia mesmo em que sua morte deixava triste
um mundo de gente que aprendeu a
admirar uma das vozes mais marcantes da história da música brasileira de
todos os tempos.
No dia da morte, assim como no do
sepultamento, Tim Maia esteve redivivo na maior rede de televisão do país,
a Globo, para a qual ele não mais
existia já havia muito tempo.
Você, que é telespectador frequente
da Globo, responda: qual foi a última
vez que viu Tim Maia em programa
da emissora, cantando algum de seus
grandes sucessos?
Claro que não se recorda, porque a
presença dele esteve proibida por muitos anos. Nada que lhe dissesse respeito pintava na tela da Globo, cujos telespectadores foram privados de sua
genialidade.
Por quê? Porque Tim Maia -assim
como fazia com uma quantidade
imensa de pessoas e de instituições
que conhecia ou não- adorava esculhambar a Globo, seu proprietário,
Roberto Marinho, e principalmente o
ex-todo-poderoso José Bonifácio de
Oliveira Sobrinho, o Boni.
Em entrevistas recentes, Boni nega:
diz que nunca proibiu que Tim Maia
cantasse na TV, apesar de ter enfrentado várias vezes a maledicência do
cantor de "Primavera" e de ter levado
muitos "canos" dele em programas da
emissora.
Rei do "cano" Tim Maia era mesmo.
Boquirroto e de língua ferina, idem.
Não se tratava de exclusividade, mas,
mesmo assim, a Globo resolveu puni-lo com o desprezo.
Se a não-aceitação do temperamento incômodo do artista justifica um
boicote que durou anos, isso fica por
conta da consciência dos mandachuvas da TV e, principalmente, de seus
telespectadores, os mais prejudicados.
O que não se pode aceitar é o oportunismo grandiloquente com que a
emissora cercou a morte de Tim Maia.
O tratamento "vip" dispensado à até
então "persona non grata", que incluiu programa especial e longos cinco
minutos de oba oba no "Jornal Nacional", só pode ser entendido por uma
ótica: na guerra suja da audiência,
um morto ilustre vale ouro.
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