São Paulo, quarta, 18 de março de 1998

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Tim Maia ressuscita na Globo

LUIZ CAVERSAN
Rio de Janeiro - O cantor Tim Maia ressuscitou. E ressuscitou no dia mesmo em que sua morte deixava triste um mundo de gente que aprendeu a admirar uma das vozes mais marcantes da história da música brasileira de todos os tempos.
No dia da morte, assim como no do sepultamento, Tim Maia esteve redivivo na maior rede de televisão do país, a Globo, para a qual ele não mais existia já havia muito tempo.
Você, que é telespectador frequente da Globo, responda: qual foi a última vez que viu Tim Maia em programa da emissora, cantando algum de seus grandes sucessos?
Claro que não se recorda, porque a presença dele esteve proibida por muitos anos. Nada que lhe dissesse respeito pintava na tela da Globo, cujos telespectadores foram privados de sua genialidade.
Por quê? Porque Tim Maia -assim como fazia com uma quantidade imensa de pessoas e de instituições que conhecia ou não- adorava esculhambar a Globo, seu proprietário, Roberto Marinho, e principalmente o ex-todo-poderoso José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni.
Em entrevistas recentes, Boni nega: diz que nunca proibiu que Tim Maia cantasse na TV, apesar de ter enfrentado várias vezes a maledicência do cantor de "Primavera" e de ter levado muitos "canos" dele em programas da emissora.
Rei do "cano" Tim Maia era mesmo. Boquirroto e de língua ferina, idem. Não se tratava de exclusividade, mas, mesmo assim, a Globo resolveu puni-lo com o desprezo.
Se a não-aceitação do temperamento incômodo do artista justifica um boicote que durou anos, isso fica por conta da consciência dos mandachuvas da TV e, principalmente, de seus telespectadores, os mais prejudicados.
O que não se pode aceitar é o oportunismo grandiloquente com que a emissora cercou a morte de Tim Maia.
O tratamento "vip" dispensado à até então "persona non grata", que incluiu programa especial e longos cinco minutos de oba oba no "Jornal Nacional", só pode ser entendido por uma ótica: na guerra suja da audiência, um morto ilustre vale ouro.



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