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ELIANE CANTANHÊDE
Festa e velório
BRASÍLIA - A Petrobras sobe e a Varig cai. Uma vira peça-chave na campanha publicitária do governo e da
campanha reeleitoral de Lula, ao
atingir a sonhada meta da auto-suficiência na produção de petróleo. A
outra vira um pesadelo, com uma dívida impagável e "incomprável" perto dos R$ 8 bilhões e 11 mil empregados com a corda no pescoço.
Com um simples gesto, o de apertar
um botão e fazer jorrar petróleo, Lula
estará assumindo para si os louros de
uma história de meio século e de 15
presidentes, com uma forte marca
nacionalista. É uma nova versão do
"Brasil que vai pra frente", com direito a festa, dias e dias de publicidade e
ampla cobertura jornalística.
Na outra ponta, foi com uma frase
curta e direta -""Não cabe a governos salvar empresa falida"- que o
mesmo Lula selou o destino da Varig,
tão nacional quanto a Petrobras,
mas com uma diferença fundamental: uma é estatal, a outra é privada.
A frase de Lula é irretocável, porque
de fato não é papel do Estado jorrar
dinheiro público em negócios privados. Mas não deixa de ser mais um
apelo ao esquecimento. No governo
FHC, "esqueçam o que eu escrevi"
(declaração, aliás, que o tucano nega). No de Lula, "esqueçam o que eu
disse". Porque os jornais não se cansavam de alardear que ele mandara
seus ministros salvarem a Varig,
marca estratégica para o país e quase
mítica para várias gerações.
A determinação parou em José Dirceu e José Viegas. Ambos caíram, levando com eles o último projeto razoavelmente viável para a companhia -a fusão com a TAM, que os
próprios diretores e funcionários vetaram. Depois disso, o governo e os
diferentes atores envolvidos na questão dedicaram-se a uma dança fúnebre, um acusando o outro, um anulando a proposta do outro, todos inviabilizando qualquer solução factível. O final não poderia ser feliz.
O velório da Varig é um contraponto à festa da Petrobras. Só uma terá
efeito real sobre a campanha?
@ - elianec@uol.com.br
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