São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2008

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Precipitação

BC cumpriu promessa de elevar Selic, a despeito do dissenso técnico; ao menos sugere que ciclo de alta será moderado

OS ALERTAS de que seria uma decisão precipitada partiram de analistas econômicos dos mais variados matizes teóricos e ideológicos. A despeito disso, o Comitê de Política Monetária do Banco Central cumpriu a promessa velada de que elevaria os juros básicos. Fez mais: ordenou aumento de meio ponto percentual na Selic, quando a expectativa dominante era de 0,25 ponto.
Os dados a respeito da inflação, das expectativas quanto a sua evolução futura e do balanço entre a oferta e demanda não abalizavam alta imediata da Selic. Não por acaso, a direção do Banco Central declarou, poucas semanas antes da reunião de anteontem, que mesmo num contexto em que a inflação e as expectativas a seu respeito estivessem alinhados com a meta oficial um aumento "preventivo" de juros poderia ser conveniente.
Após o alarme do BC, deu-se um fato curioso: ao invés de as autoridades orientarem-se pela expectativa de inflação dos agentes privados, elas induziram a uma piora de tais expectativas.
O pressuposto crucial do Banco Central para aumentar os juros anteontem -a economia continua excessivamente aquecida neste início de ano, o que facilita a disseminação da alta de preços- ainda está para ser provado. Não cabe dúvida, contudo, de que a decisão do Copom foi coerente com seu diagnóstico.
Coerência, aliás, é o que daqui para a frente será cobrado do BC a respeito de um aspecto correlato. O comunicado oficial do Copom desta feita foi bem menos vago do que de costume ao expressar a avaliação de que "a decisão de realizar, de imediato, parte relevante da elevação de juros vislumbrada irá contribuir para (...) reduzir a magnitude do ajuste total a ser implementado".
Em tradução livre para o português, o Copom planeja novas elevações de juros -porém poucas e em dose moderada. Isso se traduziria num ciclo de alta mais breve e menos pronunciado do que parcela do mercado, alarmada pela retórica do BC, já antevia. Não à toa, os juros de prazo mais longo, negociados em contratos futuros, caíram ontem.
Nos últimos anos o volume de crédito cresceu vigorosamente. Por conta disso, a economia brasileira é hoje bem mais sensível a alterações na taxa básica -cujo objetivo é acelerar ou, no caso em tela, reduzir o ritmo de empréstimos. Esse fato, somado ao passo acelerado em que cresce a capacidade produtiva no Brasil, leva a crer que um aumento comedido no juro básico logo deverá revelar-se mais que suficiente para controlar a inflação.


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