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Precipitação
BC cumpriu promessa de elevar Selic, a despeito do dissenso técnico; ao menos sugere que ciclo de alta será moderado
OS ALERTAS de que seria
uma decisão precipitada partiram de analistas econômicos dos
mais variados matizes teóricos e
ideológicos. A despeito disso, o
Comitê de Política Monetária do
Banco Central cumpriu a promessa velada de que elevaria os
juros básicos. Fez mais: ordenou
aumento de meio ponto percentual na Selic, quando a expectativa dominante era de 0,25 ponto.
Os dados a respeito da inflação,
das expectativas quanto a sua
evolução futura e do balanço entre a oferta e demanda não abalizavam alta imediata da Selic.
Não por acaso, a direção do Banco Central declarou, poucas semanas antes da reunião de anteontem, que mesmo num contexto em que a inflação e as expectativas a seu respeito estivessem alinhados com a meta oficial
um aumento "preventivo" de juros poderia ser conveniente.
Após o alarme do BC, deu-se
um fato curioso: ao invés de as
autoridades orientarem-se pela
expectativa de inflação dos agentes privados, elas induziram a
uma piora de tais expectativas.
O pressuposto crucial do Banco Central para aumentar os juros anteontem -a economia
continua excessivamente aquecida neste início de ano, o que facilita a disseminação da alta de
preços- ainda está para ser provado. Não cabe dúvida, contudo,
de que a decisão do Copom foi
coerente com seu diagnóstico.
Coerência, aliás, é o que daqui
para a frente será cobrado do BC
a respeito de um aspecto correlato. O comunicado oficial do Copom desta feita foi bem menos
vago do que de costume ao expressar a avaliação de que "a decisão de realizar, de imediato,
parte relevante da elevação de
juros vislumbrada irá contribuir
para (...) reduzir a magnitude do
ajuste total a ser implementado".
Em tradução livre para o português, o Copom planeja novas
elevações de juros -porém poucas e em dose moderada. Isso se
traduziria num ciclo de alta mais
breve e menos pronunciado do
que parcela do mercado, alarmada pela retórica do BC, já antevia.
Não à toa, os juros de prazo mais
longo, negociados em contratos
futuros, caíram ontem.
Nos últimos anos o volume de
crédito cresceu vigorosamente.
Por conta disso, a economia brasileira é hoje bem mais sensível a
alterações na taxa básica -cujo
objetivo é acelerar ou, no caso
em tela, reduzir o ritmo de empréstimos. Esse fato, somado ao
passo acelerado em que cresce a
capacidade produtiva no Brasil,
leva a crer que um aumento comedido no juro básico logo deverá revelar-se mais que suficiente
para controlar a inflação.
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