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Uso de verba da Petrobras para bancar ONGs ligadas ao PT se repete ao longo dos anos, assim como a desfaçatez de envolvidos
HÁ ESCÂNDALOS inusitados e ridículos, como
o episódio dos dólares
flagrados na roupa íntima de um assessor petista. Há
os propícios à reportagem fotográfica, como o do castelo de um
deputado mineiro. Há escândalos de alta complexidade e envergadura; há também os que ao
contrário, são de uma simplicidade pasmosa, como a farra das
passagens aéreas no Congresso.
A Petrobras se especializou, ao
que parece, numa modalidade
própria de escândalo, em que o
descaso com o patrimônio público, o aparelhamento partidário e
a desfaçatez dos envolvidos se
somam a outra característica,
não muito frequente no mundo
da negociata e da esperteza: uma
patente falta de imaginação.
Nesta quinta-feira, a Folha noticiou que a Petrobras transferiu
R$ 1,4 milhão a uma ONG para
que esta organizasse festas de
São João em 26 municípios baianos no ano passado. A ONG é dirigida pela vice-presidente do
PT da Bahia, que também acumula os cargos de dirigente da
CUT e assessora do líder da bancada petista na Assembleia Legislativa do Estado.
Esse caso de patrocínio "companheiro" reproduz sem alterações um escândalo que veio à tona em 2006. Naquele ano, noticiou-se que a Petrobras contratara, sem licitação, uma ONG encarregada de fazer serviços de
treinamento de mão-de-obra.
Da ONG participavam empresas
que doaram R$ 2,5 milhões a políticos do PT, então em campanha eleitoral.
Mais que isso, a Petrobras destinou, naquela época, R$ 31 milhões para organizações não-governamentais que apoiavam a
candidatura de Lula à reeleição.
Confrontado com aquelas revelações, o presidente da estatal,
José Sérgio Gabrielli, investiu de
modo destemperado contra a
imprensa, acusando-a da prática
de "jornalismo marrom".
O mesmo termo volta a ser
empregado por Gabrielli, ao ser
flagrado em reincidência. Num
tom menos exaltado -a prática
da vida pública tende a limar as
arestas de personalidade dos administradores brasileiros-, o
presidente da estatal saiu-se
com o mesmo refrão.
"Peço desculpas porque posso
soar agressivo", declarou, antes
de considerar as reportagens "típicas do que antigamente se chamava de jornalismo marrom".
Seriam fruto, diz, de uma visão
e de um comportamento jornalístico "que não condizem com o
histórico da Folha".
Digamos que condizem, sim
-pelo menos quando se consultam os arquivos de 2006, dando
conta do uso desavergonhado de
verbas da Petrobras na sustentação de ONGs vinculadas ao PT.
De "não-governamentais", entidades desse tipo só têm, na
prática, o nome; aparelhadas pela militância petista, sobrevivem
de patrocínios, supostamente
destinados, por exemplo, a promover valores e tradições da cultura nacional. Festas juninas,
com certeza. Apadrinhamento,
paroquialismo, abuso de poder e
negociatas, mais ainda.
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